Ensino (Especial) Doméstico – Parte 1

Sou mãe de um jovem com autismo moderado, o Filipe. O meu filho tem 16 anos e, apesar das suas dificuldades, é suficientemente verbal para nos comunicarmos no dia a dia. No ano letivo 2017/18, tornei-me a sua professora, estando ele matriculado no Ensino Secundário na modalidade de Ensino Doméstico com PEI (Programa Educativo Individual) e com PIT (Plano Individual de Transição).

Do meu ponto de vista, o contexto do Ensino Doméstico pode ser muito rico e variado. Eu aproveito todas as oportunidades para ensinar, estimular e desenvolver as capacidades do meu filho. Uso todos os recursos materiais que tenho disponíveis, desde os objetos mais simples de casa e do ambiente, até outros materiais que vamos criando para concretizar conceitos, explorar temas e fazer experiências, tantas vezes quantas sejam necessárias. 

Procuro envolver os diferentes elementos da família e outras pessoas do nosso convívio, para que todos aprendam a lidar o melhor possível com as dificuldades do Filipe e também para que possam ajudar.

No autismo, as situações são muito diferentes umas das outras, dependendo do grau de autismo (severo, moderado ou leve) e das comorbilidades associadas ao autismo (ansiedade, medos, défice de atenção e outras). Se é verdade que, por força desses fatores, o desenvolvimento da pessoa com autismo fica bastante mais comprometido nos casos mais severos, também é verdade que as pessoas com autismo são capazes de aprender (cada uma dentro do seu grau, ritmo e perfil) e são capazes (também dentro das suas capacidades e talentos) de produzir coisas e de contribuir positivamente para a sociedade, se lhes for dada a oportunidade.

Do ponto de vista do futuro do Filipe e do bem-estar da nossa família, esta sua capacidade de aprender e de poder fazer coisas  é extremamente importante. Quanto mais autónomo ele conseguir ser e quanto mais estável emocionalmente estiver, menos pesada será a vida familiar agora e na sua vida adulta, quando nós pais já não tivermos a capacidade física e psíquica  que temos hoje, ainda que o seu grau de autonomia não lhe permita ter uma vida totalmente independente. Faz parte destes objetivos uma ocupação laboral, por muito simples que ela seja. No meu plano de trabalho com o Filipe ao longo dos anos, tenho procurado ter sempre presente esta visão de futuro a médio e longo prazo.

As fotos abaixo exemplificam o tipo de trabalho (atividades e experiências) que temos feito:

Eu oriento o meu trabalho procurando seguir sempre alguns princípios:

  1. Programação da semana (que inclui uma recompensa no final do dia pela boa colaboração nas tarefas propostas e pela boa interação);
  2. Organização dos materiais e definição do espaço para trabalhar;
  3. Definição de regras simples, mas muito claras, quer de trabalho quer de comportamento (para compreender o melhor possível o que se espera dele e o que pode ou não fazer em determinado momento do dia);
  4. Tempo de descanso para mim — isto é fundamental — ainda que seja curto. Eu faço-o a seguir ao almoço. Neste período, também defino um tempo de descanso para o Filipe (com temporizador ou alarme), durante o qual ele ouve música e faz desenho livre e, ao mesmo tempo, aprende a respeitar o tempo de outra pessoa (no caso, o meu tempo);
  5. Persistência e paciência, em particular nos dias mais difíceis;
  6. Mostrar disponibilidade para o ouvir e mostrar interesse em saber o que ele gosta (investir na interação);
  7. Variar as atividades de lazer ao longo da semana e a cada semana, em particular quanto a diversos equipamentos eletrónicos (televisão, DVDs, jogos, computador, “tablet” ou telemóvel) e gerir o tempo gasto nestas atividades.

Na parte 2, irei partilhar um pouco da minha experiência sobre a Programação da Semana.

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