Imagine a cena que vou descrever:
Você vai com os seus filhos na rua e a sua filha, com 9 anos, declara alto e bom som:
«Mãe, quando crescer quero ser lésbica, posso? A Rita disse que é.»
O seu filho, com 6 anos, pergunta:
«Mãe, como é que se fazem os bebés?
E ambos a pressionam para saber mais detalhes.
Alguns dias depois, em casa, a menina, após mais uma aula de educação sexual na qual os alunos foram incentivados a “ir em frente e experimentar”, mas com responsabilidade e quando forem maiores, quer saber quando será esse “ser maior”. O menino começou a sentir-se excitado e a falar em masturbação, mas não tem qualquer noção sobre o efeito que isso provoca nas outras pessoas… 9 e 6 anos… Tão precoces, não são?
Há algum tempo, publiquei a denúncia de uma mãe, que me perguntava como proteger a sua filha, com 10 anos, de uma actividade de Cidadania e Desenvolvimento, na qual as crianças aprenderiam a usar o preservativo e a colocá-lo. Tornei a denúncia pública e qual não foi a minha surpresa quando mães vieram defender que as meninas deviam, sim, aprender a colocar os preservativos aos 10 anos para não correrem riscos… Como se ter relações sexuais aos 10 anos fosse… Normal?
Sim. De acordo com aquela mãe, e outras que comentaram a minha publicação, eu é que sou um dinossauro — retrógrada, antiquada, conservadora, etc. — e ainda não evoluí o suficiente para perceber que ter relações sexuais aos 10 anos de idade é… moderno.
Nesta sociedade, hiper-sexualizada, é tentador adiar conversas sobre sexo para mais tarde, achar que as crianças não precisam falar sobre isso tão cedo e que elas devem brincar e não falar de algo tão… adulto. Eu também pensava assim. Eu não falei com os meus filhos mais velhos sobre sexo tão cedo e com o mais novo, que hoje tem 20 anos, falei à medida que ele me ia perguntando. Mas, vivemos dias diferentes.
Portanto, quer você fale, quer não, os seus filhos, a partir dos 3 anos, vão ouvir falar de sexo em sala de aula, no recreio, nos livros, nos desenhos animados, nas séries, nos filmes, na telenovela, na casa do amiguinho e até na igreja. E, se você não conversar com os seus filhos acerca desse assunto, tão íntimo, permitirá que outros moldem os pensamentos dos seus filhos acerca da sua sexualidade e até da sua identidade em público. Se você não tomar a iniciativa de conversar com eles sobre sexo, deixá-los-á perdidos e absolutamente despreparados para lidarem com adultos treinados para os doutrinar nessa área.
Não basta dizer: «Guarda-te para o casamento», pois isso soa tão ridículo neste mundo erotizado, que os seus filhos terão vergonha de sequer admitir que ouviram isso dos pais. Aliás, a maioria dos pais de hoje consideram as filhas e os filhos como um carro. Eu explico: muitos pais aconselham as filhas/filhos a experimentar fazer sexo com o namorado/namorada para ver se dá certo… Se não der… Venha o próximo carro para experimentar.
Eu sei que soa bruto, mas é tão real!
Os nossos filhos precisam que nós lhes expliquemos qual é o motivo para pessoas inteligentes e sensíveis da nossa sociedade — os seus professores — proporem uma abordagem completamente diferente em relação à sexualidade. Dizer-lhes simplesmente que tratar a sexualidade de uma forma diferente daquela que nós tratamos é o resultado do pecado não satisfaz um jovem atento, especialmente diante de tanta pressão para aceitar os chamados estilos de vida alternativos.
Como os meus filhos já são adultos e no tempo deles a Escola não era uma ferramenta a serviço do lobbie LGBTQIA+ e da ideologia de género, vou partilhar consigo os conselhos do William Smith, em “Como falar de Sexo com o seu filho”.
“Aqui está uma ilustração que utilizei para ajudar os meus próprios filhos (bem como os amigos mais velhos) a desenvolver uma visão positiva a respeito da sua própria sexualidade e a organizar as mensagens que ouviam da nossa sociedade. Trata-se de uma ilustração simples que apresenta uma estrutura para processar as mensagens mundanas ao mesmo tempo que valoriza a preciosidade que é a nossa sexualidade.
Eu começo por desenhar um círculo grande com um círculo menor lá dentro e digo: “Contexto é tudo. Se o sexo [nomeie o círculo menor para o seu filho enquanto fala] for melhor compreendido dentro do círculo da biologia [nomeie o círculo maior], então, realmente não haverá diferença da cor do teu cabelo. Tu não pediste o tipo de cabelo que tens ou a sua cor. Com a mesma facilidade tu poderias ter cabelo liso em vez de cacheado, ou vermelho em vez de castanho, e, ainda assim, tu serias tu. Na verdade, tu podes brincar com tudo relacionado ao teu cabelo – mudar a cor, mudar o estilo, mudar o comprimento, até rapá-lo todo – e, ainda assim, seres tu. A tua personalidade e tudo aquilo que forma quem tu és realmente não serão alterados caso tu faças coisas diferentes com o teu cabelo.
É dessa mesma forma que muitas pessoas pensam sobre a sexualidade. Tu tens certas partes e outras pessoas têm outras partes. As tuas partes não são essenciais para a pessoa que tu realmente és por dentro, logo, aquilo que fazes com tais partes também não altera quem tu és. A maneira como tu as utilizas é uma escolha inteiramente tua e o que fazes com elas, de facto, não faz muita diferença.
Num modo de pensar puramente biológico, a preferência e experiência pessoais fazem sentido porque são apenas aspectos físicos de uma pessoa sem uma ligação necessária com o ser mais profundo e essencial.
No entanto — eu sigo em frente, desenhando outro conjunto de círculos idêntico ao primeiro — o sexo [nomeie o círculo menor outra vez] é muito mais do que uma parte da biologia. Ele é melhor compreendido dentro do contexto da intimidade [nomeie o círculo maior] onde serve para ligar duas pessoas a um nível profundo uma com a outra. A intimidade acontece em diversos níveis. Existem ligações emocionais que construímos com as pessoas pela maneira como compartilhamos as nossas vidas uma com a outra e pelas coisas sobre as quais conversamos. [Acrescente um círculo menor Emocional dentro do círculo Intimidade.] Nesse aspecto, estamos a construir uma intimidade entre nós neste exacto momento. Estamos a utilizar palavras para ligar nossas vidas.
Nós também construímos a intimidade quando fazemos coisas juntos. [Acrescente um círculo menor Atividades]. Quando vamos caminhar, ou jogar à bola, ou cozinhar alguma coisa, ou ajudar a limpar a entrada da garagem do Sr. Manuel, nós estamos a fazer algo que une as nossas vidas.
Também existem coisas que as pessoas fazem fisicamente que as conectam; coisas que comunicam que elas gostam uma da outra e que confiam uma na outra e querem estar ainda mais juntas. As pessoas podem abraçar-se, dar palmadinhas no ombro, chocar uma com a outra de modo acidental ou propositado, sentar-se perto de outra pessoa, fazer massagem nas costas, dar as mãos, ou beijar-se… ou, em alguns casos especiais, envolver-se sexualmente uma com a outra. [Acrescente os nomes conforme for falando.]
Cada uma dessas expressões físicas tem por objectivo ligar duas pessoas de maneira mais íntima, o que significa que tu tens de entender o tipo de ligação relacional que se mostre boa para essas pessoas específicas. Um beijo entre pais e filho é diferente de um beijo entre marido e mulher, porque o relacionamento é diferente. Ambos são íntimos. Ambos estão buscando aprofundar a ligação da qual desfrutam. Contudo, ambos são expressados de modo diferente, porque o objectivo é diferente. Pais e filhos não estão tentando tornar-se uma só vida.
Deus criou o sexo para ser o conector físico mais poderoso, para o relacionamento humano mais especial e mais íntimo que podemos ter nesta terra. É a forma física de tu te entregares da maneira mais livre e plena a outra pessoa. É a expressão física de duas pessoas aprendendo a compartilhar uma só vida (Gn 2.23-24); trata-se de uma vida a ser vivida através de dois corpos.
É um relacionamento tão especial e tão singular que Deus diz ser o retrato da maneira como Jesus se relaciona com a sua noiva, a Igreja (Ef 5.31-32). Essa é a razão por que Deus quer que tu te entregues sexualmente a uma única pessoa, e isso só deve acontecer quando tu e essa pessoa tiverem prometido entregar-se um ao outro por completo. Isso é o que acontece no casamento. Qualquer outra forma de usar o sexo frustra o seu verdadeiro propósito.
As escapadas a sós (masturbação) não buscam ligar-te a ninguém. Experimentar a tua sexualidade também ignora o objectivo de ligação com o sexo oposto num nível que reflita o relacionamento de entrega exclusiva e eterna que Deus tem com a sua noiva. Essa é a razão por que queremos afastar-te do sexo antes do casamento.
Como as transas casuais não tentam compartilhar uma única vida, tu acabas transmitindo mensagens misturadas. Fisicamente, tu estás a dizer: ‘Eu sou todo teu e só teu’, embora tu e a outra pessoa saibam que isso não é verdade. Tu tornas-te um hipócrita relacional. Num momento em que Deus planeou que duas pessoas fossem autênticas e genuínas uma com a outra, tu estás a reprimir-te enquanto, ao mesmo tempo, declaras estar entregando tudo o que tens. Tu estás a mentir.
As outras pessoas também sabem que tu és desonesto, mesmo que tu não o admitas, por meio dos nomes desagradáveis que elas lhe dão — galinha, vadia, vagabunda, etc. O problema, todavia, é pior do que ser apenas insultado.
Quando ter relações sexuais com diferentes parceiros se torna um estilo de vida, ele afecta a maneira como tu vês as pessoas. As relações sexuais tornam-vos objectos a serem usados e, então, descartados quando tu seguires adiante. Tal atitude não pode ser escondida dentro de uma caixinha bem fechada. Pelo contrário, ela transparece na forma como tu lidas com as amizades no geral, pois tu ensinas-te a pensar: ‘O que é que eu posso obter dessa pessoa?’. Ela afecta também a forma como tu te vês, tanto como usuário quanto como um objecto a ser usado por outra pessoa. O que, a princípio, parece bastante tentador está repleto de tal veneno (Pv 9.13-18).”
Tu consegues perceber como até mesmo os casais comprometidos, os quais são sexualmente activos, mas não são casados, estabelecem a hipocrisia no seu relacionamento? Com os seus corpos, eles querem dizer algo que não querem ou não estão prontos para dizer ao resto do mundo: ‘Eu prometo entregar-me por inteiro a ti agora, de forma que nós, literalmente, compartilhemos uma só vida, e eu continuarei a fazê-lo até que um de nós morra’. Só quando tu firmas esse compromisso e não te importas com quem tem conhecimento dele é que estás pronto para expressá-lo fisicamente também. Isso faz sentido?”
Eu descobri que a conversa flui com facilidade a partir desse ponto à medida que ela levanta outras perguntas para o seu filho: Quando é que eu devo namorar? Qual é o limite do namoro? O que há de errado com a homossexualidade? O que há de errado em João e Catarina viverem juntos?
Não são perguntas fáceis, porém, são perguntas que podem ser tratadas dentro do entendimento relacional da sexualidade do seu filho, e não dentro de um simples modelo biológico de preferência pessoal, seja esse modelo o seu, o deles ou o da sociedade em geral. Essa pode não ser a sua última conversa sobre sexo, mas pode fornecer princípios para uma visão positiva quanto ao desenvolvimento físico do seu filho. Além disso, ela rejeita o mundo corrompido que anseia por explorá-lo.