
A linguagem e o comportamento do movimento Woke parecem imitar os da religião teísta tradicional, mas não pretendem fundamentar-se em nenhuma autoridade divina. Portanto, vale a pena perguntar: como é que esse movimento conseguiu fazer fiéis tão vocais e entusiásticos?
Não podemos deixar de nos perguntar como é que tal movimento conseguiu reunir tanto apoio a ponto de deixar os professores universitários com medo de questionar a doutrina do género, raça, etnia ou diversidade social; e os jornalistas com medo de perderem o seu ganha-pão caso uma multidão do Twitter Woke decidisse cancelá-los por dizerem a coisa errada. Ou seja: por não alinharem na confissão de fé da nova religião.
Uma explicação para o número de fiéis talvez esteja no facto de o movimento Woke fornecer aos seus fiéis um senso de significado, propósito e até fé, que são difíceis de encontrar fora da religião tradicional. Os seres humanos, na sua maioria, não suportam viver num mundo completamente desencantado, desprovido de fé e esperança em algo maior do que eles mesmos.
Quando as pessoas perdem a estrutura tranquilizadora das tradições e normas religiosas, tendem a sentir-se ansiosas e inseguras sobre o significado das suas vidas. Renunciar à possibilidade de viver em comunhão com uma comunidade de fé tradicional, ou buscar o perdão de um Deus misericordioso, não elimina completamente o sentimento de culpa ou a necessidade de alguma garantia de que se está no caminho certo.
Quando se perde a fé na religião teísta, os movimentos humanos que pregam verdades absolutas, uma receita para a rectidão pessoal e um senso de convicção inabalável podem tornar-se extremamente sedutores.
Historicamente, as sociedades desprovidas de religião tendem a colocar a sua fé em algum substituto barato, seja o comunismo utópico, o imperialismo militante, o ambientalismo radical, o transumanismo, o nacional-socialismo ou a idolatria do estado-nação.
O movimento Woke não é apenas uma invenção caprichosa de alguns indivíduos descontentes: é a expressão de uma necessidade desesperada de significado, propósito e redenção pessoal, que não pode ser atendida num mundo secularizado e desencantado.