Jordan Peterson entrevista Chloe Cole, uma jovem detransicionada (13)

Dr. Jordan – Está bem, está bem, isso é interessante. Mesmo entre os chimpanzés, se permitirmos que os jovens chimpanzés escolham livremente os brinquedos, os machos escolhem camiões e coisas e engenhocas, e as fêmeas escolhem bonecas. E as chimpanzés fêmeas andam com as bonecas, ursos de peluche, etc, durante meses, e desenvolvem uma ligação muito profunda com eles.

Uma das coisas que é realmente necessária para as meninas, e talvez para os meninos, mas certamente para as meninas, é brincar com bonecas. É realmente necessário porque tudo isso faz parte dessa prática, desse papel feminino profundo. E, sem isso, não temos qualquer hipótese. É assim que as crianças pensam, pensam brincando e se não tiverem a oportunidade de o fazer, então não o exploram. Por isso, isso só se manifestou na tua vida quando tinhas 16 anos e já tinhas passado por toda aquela miséria.

Quando é que começaste a pensar em tomar medidas legais e porque é que achas que isso se justifica?

Chloe – Isso foi um pouco mais tarde. Talvez devesse falar primeiro do meu processo de detransição e do que me levou a começar a falar e a fazer isso. Quando me apercebi disso, na noite em que me fui abaixo e falei com uma pessoa amiga e com a minha mãe e o meu pai, sobre o assunto, foi nessa noite que deixei de tomar testosterona e decidi deixar crescer o cabelo, comprar roupas novas e resolver as coisas a partir daí.

Passei cerca de uma semana sem fazer nada. Nessa altura, estava no fundo do poço e não via razão para continuar a fazer nada. Fiquei na minha cama ou no meu quarto o dia todo, não saí, excepto para ir à casa de banho ou comer qualquer coisa. A mãe e o pai vinham ver como eu estava, era reconfortante e isso fazia-me continuar. A partir daí, tive de resolver tudo praticamente sozinha.

Disse ao meu endocrinologista, ao meu terapeuta e aos meus especialistas em género que me arrependia profundamente da minha transição e que ia parar. Não recebi muita orientação sobre isso. Acho que não podiam mesmo, porque seria contra a lei sugerir outra coisa que não fosse…

Dr. Jordan – Bem, essa é uma questão complicada, certo? Porque, hipoteticamente, assim que anuncias isso, eles também são legalmente obrigados a concordar com isso, certo? Por isso, podiam ter concordado contigo. Tenho uma certa simpatia pelos conselheiros e médicos, porque estão a enfrentar um inferno supremo na frente dos orgãos reguladores, mas dito isto, também diria que o seu dever fundamental de cuidado é para com o indivíduo e não para com os malditos orgãos reguladores. Mas podiam ter levado a sério o teu arrependimento.

Disseste que enfrentaste oposição ou foi apenas uma questão de falta de orientação?

Chloe – Foi sobretudo falta de orientação, ninguém se opôs realmente. Mas comecei a pedir análises de sangue à minha endocrinologista, disse-lhes especificamente que já não me identificava como sendo do sexo masculino e que queria as directrizes para uma pessoa do sexo feminino da minha idade. Quando recebi os resultados, foram-me enviados com as directrizes para os níveis médios de hormonas sexuais de um rapaz adolescente.

Esse foi o primeiro momento em que me apercebi de que estas pessoas não me iam ajudar.

Dr. Jordan – Sabes, é estranho porque se os teus médicos estavam tão convencidos de que estavas 100% certa quando decidiste fazer a transição. Estavas suficientemente certa para tomar as hormonas e fazer a cirurgia, seria de esperar que houvesse alguma resistência à tua súbita mudança de opinião, mas parece que encontraste basicamente a mesma reação indiferente à segunda decisão que encontraste para a primeira. O que não é surpreendente, embora seja horrível.

Chloe – Em resumo, foi totalmente orientado pela doente.

Dr. Jordan – Certo, certo. Então, tudo bem, decidiste intentar uma acção judicial. Fala-nos sobre isso.

Chloe – No início deste ano comecei a falar publicamente sobre a minha experiência com a transição e depois com a interrupção da transição. Antes disso, tinha perdido muitos amigos da escola e da Internet por causa disso, ao longo da minha detransição, porque tinha mudado muito os meus pontos de vista e muitos deles discordavam muito de mim. Estavam muito zangados comigo.

Houve uma pessoa que continuou a assediar-me só porque me arrependi e disse que eu merecia sentir-me assim, que não merecia ter pais que me amassem o suficiente para me deixarem passar por isto. Muitas outras pessoas disseram que eu só as estava a deixar desconfortáveis e que eu não devia dar voz a nada disto, porque estaria a prejudicar outras pessoas transgénero verdadeiras que precisavam deste tratamento.

Continua

Traduzido por Maria Azevedo (Associada)
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