
Entrevista Jordan Peterson e Joe Rogan: O que causa esta pressa?
Joe Rogan – O que é que está a causar esta pressa? Como é que isto aconteceu e como é que aconteceu tão rapidamente?
Dr. Peterson – Bem, isto está parcialmente relacionado com esta questão da faculdade. É uma forma de se olhar para isto. Agora, os profissionais são obrigados, por lei, a oferecer aconselhamento sobre a afirmação do género. Estão obrigados por lei. Portanto, isto significa o seguinte: se levar a sua filha de 13 anos para ser avaliada por um médico ou um psicólogo, e talvez ela tenha níveis elevados de neuroticismo com tendência para a depressão e a ansiedade, e isso se esteja a manifestar em desconforto corporal.
Isso está a ser moldado por esta moda cultural que insiste que, se nos sentimos desconfortáveis com o nosso corpo, é porque somos do sexo oposto. Essa é a parte da epidemia psicológica, e podemos falar sobre isso com um pouco mais de detalhe.
Mas agora somos obrigados por lei, se formos profissionais, a dizer “oh, achas que és um rapaz? Sim, com toda a certeza, és 100%. O que é que podemos fazer para facilitar esse avanço?” E tudo isso foi, como é que se diz?, introduzido na lei sob o pretexto da eliminação da terapia de conversão.
O problema com isso é que, se formos terapeutas ou médicos, não afirmamos a identidade de alguém, não é essa a nossa função, e também não é nossa função negar a sua identidade. O nosso papel é ajudá-los a explorar a sua identidade, e, assim esperamos, desenvolvê-la. Por isso, quando alguém vem ter connosco, talvez tenha dismorfia corporal, talvez seja anorético, o que é uma forma de dismorfia corporal, e a primeira coisa que fazemos, se tivermos algum bom senso, é constatar que isso decorre de uma propensão subjacente mais global para sofrer de depressão e ansiedade.
Esse é o grande elefante na sala: depressão e ansiedade. Se os activistas trans dizem que os tipos dismórficos corporais são mais propensos a ter pensamentos suicidas, não é porque tenham dismorfia corporal, é porque são propensos à depressão e à ansiedade, e as pessoas deprimidas e ansiosas são mais propensas a ter pensamentos suicidas. E talvez a dismorfia corporal contribua um pouco para isso, mas ninguém sabe ao certo. Provavelmente acrescenta um pouco, mas a questão fundamental é a depressão e a ansiedade.
Estamos a sofrer de uma autoconsciência não especificada e a cultura dá-nos a volta para nos oferecer uma narrativa, e a narrativa é “oh bem, estás no corpo errado”, e depois essa cenoura é, e isto faz parte do processo, extraordinariamente patológica, muitos destes miúdos que sofrem desta alienação são impopulares. Agora, estão a ser aliciados “bem, não és impopular, és especial de uma forma interessante”. Se agarrares nesta cenoura, se fores do sexo oposto, de repente não és uma vítima, és um buscador corajoso que procura a sua identidade redentora, e podes ser elevado e podes ser tratado de forma especial e, meu Deus, se és um adolescente impopular, como é que alguma coisa poderia ser mais atraente do que isso?
Depois também pensamos “porque é que os adolescentes são assim tão ingénuos? Porque é que alinham com a multidão?” e a resposta a isso é que é isso que é suposto fazermos quando somos adolescentes, é esse o nosso trabalho, certo? Porque, antes de mais, estás com os teus pais e ainda não és um indivíduo de pleno direito, por isso o que tens de fazer é tornar-te parte do grupo e, se não fizeres parte do grupo, bem, talvez sejas um génio criativo estelar e sejas excecional nesse aspeto, mas o mais provável é que sejas apenas um falhado que não se conseguiu integrar. E isso é mau, isso é garantido!
Por isso, o teu trabalho quando és adolescente é integrares-te, como todos os adolescentes sabem, e talvez não apenas para te integrares, mas para te integrares de uma forma positiva que eleve a comunidade, mas podemos contentar-nos com a integração. Os adolescentes estão programados para se juntarem à multidão, e se a multidão estiver a oferecer algo patológico, o que acontece a toda a hora, temos uma epidemia psicológica. Eu sabia disso, eu disse-vos, eu disse isto ao Senado em 2017. Porque é que eu sabia? Bem, eu conhecia a literatura, rastreámos epidemias psicológicas que remontam a 300 anos, 300 anos!
Aqui estão algumas delas: transtorno de personalidade múltipla. É cíclico na sociedade: desaparece, depois há um caso, depois espalha-se como um louco, depois há transtorno de personalidade múltipla em todo o lado, sobretudo em raparigas adolescentes. Depois as pessoas ficam cépticas em relação a isso e a doença morre e talvez desapareça durante uma ou duas gerações. Depois aparece um caso, e isso aconteceu durante 300 anos.
A auto-mutilação foi uma epidemia psicológica. A bulimia foi uma epidemia psicológica. A anorexia foi uma epidemia psicológica. As acusações de abuso ritual satânico em creches que surgiram nos anos 80 foram uma epidemia psicológica. Basicamente, a regra é que, se confundirmos as pessoas acerca de um elemento fundamental da sua identidade, aqueles que já estão tão confusos que mal se aguentam vão ser vítimas disso, e vai ser um inferno. Foi exatamente isso que aconteceu na situação dos trans.
Rogan – Mas a diferença entre esta por oposição às outras, como a perturbação de personalidade múltipla, é que esta está a ser reforçada culturalmente. És recompensado.
Dr. Peterson – Sim, bem, com a perturbação de personalidade múltipla isso também aconteceu porque se recebe muita atenção dos media, especialmente das pessoas que são as primeiras a apresentar os primeiros sintomas de perturbação de personalidade múltipla. Um psicólogo, um psiquiatra ou um alienista, se formos suficientemente atrás no tempo, relata um caso fascinante de personalidade múltipla.
Sabes, há pessoas que são dissociativas, ou seja, têm múltiplas personalidades, mas estão unidas pela memória. Normalmente são pessoas criativas, porque as pessoas criativas têm múltiplas personalidades, é isso que as torna criativas, não são as mesmas de dia para dia. Pode mesmo dizer-se que têm identidades fluidas. Portanto, as afirmações referentes aos tipos de género de que algumas pessoas têm identidades fluidas é isso, as pessoas criativas têm identidades fluídas. São os tipos de cabelo roxo com piercings no nariz e tatuagens, tudo isso faz parte de traços psicológicos de abertura. Se combinarmos isso com um elevado neuroticismo (emoções negativas) obtemos pessoas com uma identidade fluida que também são propensas à depressão e à ansiedade. Isso também é muito claro.
Se formos alguém excluído, queremos ser alguém excluído aborrecido e desprezível, ou queremos ser alguém excluído que é interessante, atraente e novo e excitante? Se fores uma rapariga adolescente e fores impopular isso é brutal, porque ficas presa a essas raparigas más, elas põem-te à parte e excluem-te. É absolutamente brutal, vivemos uma existência periférica, não temos amigos, todos nos desprezam, e talvez isso se deva, em parte, ao facto de termos algo que nos distingue da norma, como uma tendência para o autismo.
Tradução: Maria Azevedo (associada)