Jordan Peterson entrevista Chloe Cole, uma jovem detransicionada (10)

Dr. Jordan – Ok, ok, tudo bem. Então agora tens 15 anos e vais ver um especialista em relação à cirurgia. Como é que foste avaliada nessa altura quando avançaste para a cirurgia?

Chloe – Não me lembro de grande coisa, mas é óbvio que não fizeram uma avaliação da minha saúde mental, foi apenas do tipo “oh então, estás em transição, identificas-te como rapaz e tens estado a tomar hormonas durante tal e tal período de tempo”, por isso eu era elegível. Depois da minha primeira consulta, o cirurgião falou-me de uma aula de cirurgia de topo (NT: eufemismo para dupla mastectomia) que estava a decorrer no edifício do hospital e encorajou-me a mim e aos meus pais a participar.

Fui e aprendi basicamente as mesmas coisas que aprendi no consultório do cirurgião, como: os diferentes tipos de incisões e como isso beneficia a disforia de género. Basicamente, só propaganda. Estavam lá talvez umas 15, 12 a 15 ou mais outras famílias. Reparei logo que todas as outras miúdas pareciam ser mais novas do que eu ou que ainda nem tinham começado a tomar hormonas, e fiquei chocada por já estarem a procurar cirurgia. Mas não me questionei muito sobre isso, era apenas do género “acho que isto é normal e não sou a única a passar por isto”.

Dr. Jordan – Certo, certo. Já estavas muito avançada no caminho e, por isso, acho que já tinhas preenchido os requisitos no que diz respeito aos médicos. Mas nessa altura, para ti, também vai ser cada vez mais difícil voltares atrás na tua decisão. Já estavas no processo há um par de anos. Isso é muito tempo, quando tens apenas 14 anos. Por isso, passaste à fase seguinte.

Isso aconteceu quando tinhas 15 anos. Qual foi a consequência da mastectomia dupla para ti? Quais têm sido as consequências até agora?

Chloe – Nesse momento, estava a tomar testosterona há dois ou três anos e já andava a fazer binding há mais ou menos o mesmo tempo, e os meus seios tinham perdido a forma, já não pareciam como dantes, não tinham… para mim, pareciam estranhos, e comecei a ter mais inseguranças em relação ao meu corpo à medida que ia fazendo a transição.

Apareceram-me estas características masculinas, mas tudo isto ainda num corpo feminino e havia uma incongruência entre as diferentes características do meu corpo, especialmente os meus seios. Era um corpo de aspeto masculino com bastante músculo e, no entanto, estas coisas estavam lá e não estavam na melhor forma. Tornou-se uma fonte de insegurança para mim e pensei que, mesmo que quisesse, o meu peito nunca mais voltaria a ser o mesmo, pelo que não fazia sentido mantê-lo.

Antes de me submeter a isto, antes de ir à faca, disseram-me que ia perder a capacidade de amamentar, mas pensei: “vou ser um homem e os homens não fazem isso”. Acho que também não estava a pensar em ser um progenitor porque, na verdade, era uma criança.

Isto fez-me lembrar uma das consultas para obter a testosterona. O meu endocrinologista fez-me algumas perguntas que eram de natureza muito adulta.

Eu estava basicamente a ser sexualizada pelos meus médicos. Era do tipo “tem consciência de que pode sofrer de atrofia vaginal” ou “tem consciência de que isto pode afetar a sua capacidade de ter filhos quando for adulta” e eu limitei-me a responder “oh sim, eu sei disso, não tenciono ter filhos”. Também não tinha tido relações sexuais até essa altura, por isso não sabia que efeito isso teria no meu corpo, mas estava a ser tratada como se fosse uma adulta com faculdades mentais para poder consentir a tudo isto e compreender aquilo a que estava a consentir. Mas eu não era, era apenas uma miúda.

Dr. Jordan – Então, o que aconteceu depois da cirurgia, como foi para ti?

Chloe – Sabe, quando acordei e estava totalmente consciente, todos os medicamentos tinham passado, apercebi-me do que tinha acabado de acontecer. Na verdade estava bastante feliz. Pensei: “Uau, isto é um grande feito, é um grande passo e posso finalmente ser eu própria”.

Estava ansiosa por estar curada e, eventualmente, poder sair para nadar, fazer exercício e andar por aí sem camisa e parecer-me com todos os outros rapazes, sem ter de me preocupar em usar esta coisa desconfortável e restritiva.

Fui operada em regime de ambulatório, fui mandada para casa pouco tempo depois e tive um período mais confortável, acho que se pode dizer, algumas semanas depois disso, porque a minha mãe teve de faltar ao trabalho para me ajudar a gerir a estadia em casa. Foi uma grande operação à parte superior do corpo e perdi uma parte considerável da minha amplitude de movimentos. Nem sequer conseguia levantar os braços acima da cabeça.

Talvez cerca de três ou quatro meses depois, ainda não estava em condições de sair sozinha, mas passado cerca de uma semana foi quando a realidade começou a bater-me à porta.

Tive de tirar os pontos uns dias depois e a sensação foi insana. Tiveram de cortar e reorganizar algumas terminações nervosas. Estava dormente, mas também conseguia sentir tudo o que estavam a fazer quando estavam a tirar as extremidades dos pontos. Era uma sensação tão repugnante. Quando fui para casa e pude finalmente tomar banho outra vez, foi quando comecei a ter de… foi quando tive de tirar a ligadura cirúrgica e os pensos, e olhei para baixo para o que restava no meu peito.

Tinha estas grandes cicatrizes e todas estas marcas de um marcador cirúrgico e, para além disso – aviso desde já que vou entrar em pormenores gráficos – mas o tipo de incisão que me foi feita chama-se incisão dupla com enxertos de mamilos, o que significa que não só retiravam o tecido mamário e contornavam o peito para ficar com um aspeto mais masculino, como também retiravam… A forma como me foi explicado, acho que porque era jovem e eles estavam a tentar tornar tudo mais digerível para uma miúda de 15 anos, era que deixavam uma espécie de raspagem profunda em ambos os lados do meu peito, como uma raspagem profunda no joelho, mas mais controlada. E retiravam os meus mamilos e depois colocavam-nos nessa zona de pele raspada, e chamavam-lhes um posicionamento e uma forma mais masculinos.

É bárbaro, para dizer o mínimo. Quando tirei os pensos, quando olhei para os enxertos estavam pretos porque durante a cirurgia, durante a operação, o fornecimento de sangue tinha sido cortado e, por isso, a camada exterior da pele tinha morrido. Disseram-me que era assim que devia ser e que isso fazia parte do processo, mas eu não suportava ver essa parte do meu corpo e tinha de ver isso sempre que tinha de mudar de roupa. Era para isso que eu tinha de olhar todas as noites, depois de cada banho, depois de cada duche.

Continua

Traduzido por Maria Azevedo (Associada)
Fonte