Jordan Peterson entrevista Chloe Cole, uma jovem detransicionada (11)

Dr. Jordan – O que é que te aconteceu em relação às sensações, porque isso é uma consequência fisiológica e sexual a longo prazo e, portanto, perde-se a capacidade de amamentar, obviamente, e há uma alteração fisiológica profunda na aparência. Mas o que é que te aconteceu a nível das sensações?

Chloe – Não é certamente o mesmo, mas melhorou muito ao longo dos anos. Quer dizer, no início tinha muitas sensações, pareciam faíscas de eletricidade, como se as minhas terminações nervosas estivessem vazias. É estranho, posso passar a mão por uma determinada zona do peito e sentir que está no meu braço ou assim. E não tenho sensação erógena nos enxertos.

Dr. Jordan – Sim, está bem, está bem. Então não foi muito depois disto que começaste a ter dúvidas sobre o que estavas a fazer. Disseste-me anteriormente que, a dada altura, começaste a pensar em ter filhos, mas também que decidiste parar a tua transição quando tinhas 16 anos.

Como é que isso aconteceu depois de teres sido operada e como é que chegaste à conclusão de que a decisão que tinhas tomado não era boa?

Chloe – Pouco tempo depois, diria talvez cerca de um mês ou dois, comecei a aperceber-me de que sentia falta de ser bonita e de ter feições mais suaves numa forma mais feminina, mas isso foi algo que reprimi durante algum tempo.

Nessa altura, já tinha tomado testosterona durante cerca de três anos e já nem sequer me parecia uma mulher, pensei que não havia volta a dar e que não valia a pena. Mas, ao mesmo tempo, também comprava maquilhagem, saias e vestidos e usava-os no conforto do meu quarto ou quando não estava ninguém em casa para os ver, o que me causava muita angústia. Depois da cirurgia, continuei a piorar, continuei a justificar na minha cabeça que fazia parte do processo pós-operatório, mas nunca melhorei realmente e só cerca de 11 meses depois da cirurgia é que percebi qual era o problema.

Nessa altura, estava a tirar um curso de psicologia, tive um capítulo sobre desenvolvimento infantil e parentalidade, e uma das aulas era sobre as experiências de Harlow com macacos rhesus, as que exploravam a relação entre a mãe e o filho. Como coisas como o afeto físico e a amamentação afectavam essa relação. E apercebi-me de que os meus seios eram muito mais do que meros órgãos sexuais, eram um meio não só de alimentar o meu filho, mas também perdi muito mais do que isso.

Dr. Jordan – De lhes dar amor e atenção. Há uma mulher chamada Tiffany Fields, ela estudou o trabalho de um homem chamado Jaak Panksepp, e Panksepp mostrou que, para que as crias de rato se desenvolvessem corretamente, tinham de ser estimuladas fisicamente, tocadas, lambidas, amadas. Os investigadores podem reproduzir isso massajando-os com a ponta de uma borracha de lápis.

De qualquer forma, Tiffany Fields demonstrou que se pegarmos em crianças prematuras que estão numa incubadora e as massajarmos três vezes por dia durante 10 minutos, elas desenvolvem-se fisicamente tão rapidamente como as crianças no útero. Há uma enorme quantidade de investigação que demonstra que o contacto pele a pele é crucial, que é amor físico, que o contacto pele a pele é uma parte crucial do estabelecimento daquilo a que se chamaria o domínio do amor necessário para que as crianças se desenvolvam.

A comida, o abrigo, o fornecimento de água adequada, etc são necessários, mas o contacto físico e o amor são igualmente necessários. Por isso, é verdade que as crianças amamentadas tendem a desenvolver-se mais, de forma mais completa, e isso é em parte uma questão nutricional, mas é também em parte uma questão de que muito do amor, do amor materno, que atrai as crianças para a vida, é uma consequência do contacto físico.

É uma grande constatação. Então, isso começou a acontecer no liceu, depois de teres sido operada.

Chloe – Senti-me um monstro.

Dr. Jordan – E, nessa altura, estavas a começar a pensar em ter filhos. Porque é que achas que isso foi despoletado pela cirurgia? O que é que te fez mudar de ideias?

Chloe – Acho que foi a maior parte do curso. Estava a aprender muito sobre mim e também sobre paternidade e filhos, e foi nessa altura que percebi que acho que um dia vou ter filhos e comecei a pensar nisso. Não só sobre a relação com o facto de ter perdido os seios, mas também sobre a possibilidade da minha fertilidade ser afetada por ter começado a tomar testosterona tão nova.

Dr. Jordan – Sabes se é esse o caso? Foste submetida a algum tipo de teste que indique se os bloqueadores e a testosterona interferiram com a tua fertilidade?

Chloe – Não sei. Na altura em que comecei, estava a começar a ter menstruações, mas eram poucas. Era muito nova, mas nessa altura não eram regulares, só tinha cerca de três a quatro por ano. Isso também foi outra fonte de stress para mim por ser mulher. Sentia que era assustador, porque todas as outras raparigas da minha idade falavam de como tinham os seus todos os meses ou de dois em dois meses. E eu aprendi alguns mitos, elas falavam sobre como os seus ciclos supostamente se sincronizavam com os de familiares ou amigas, e eu ficava “porque é que isso não está a acontecer comigo?”

Era apenas mais uma coisa na pilha que me fazia sentir como se estivesse quebrada.

Dr. Jordan – Exato, exato, exato.

Chloe – Felizmente, depois de parar, cerca de dois meses depois, voltei a ter o período e, surpreendentemente, tem sido bastante regular desde então. Não sei se passei por algum desenvolvimento.

Continua

Traduzido por Maria Azevedo (Associada)
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