Se te identificas como …, te distanciaste da tua família e de alguma maneira estás a ler estas palavras, sei que os teus pais não são a família glitter que tanto queres. Parece que não conseguem utilizar o nome e, ou, o pronome que escolheste… Parece que não conseguem deixar de utilizar o teu nome de nascimento, que tolamente creram ter direito a dar-te só porque todos os pais, desde o princípio dos tempos, supuseram o mesmo. Não sabem a diferença entre género queer, transgénero e não-binário, não importa quantas vezes lho expliques. E o pior de tudo é que talvez nunca te vejam como alguém do sexo, ou do género, que desejas ser.
Assim, talvez os teus amigos e o teu psicólogo tenham razão e os teus pais se tenham tornado tóxicos; os problemas que causam não valem a pena. Eles não são mais do que os pobres diabos que se metiam na tua cama estreita cada vez que tinhas um pesadelo, renunciando, sem se queixarem, a mais uma noite de sono, e que acordavam e saltavam da cama na noite seguinte para fazerem o mesmo; que se adaptaram aos teus movimentos e aos teus pontapés, e passaram mais noites do que as que podem recordar a ouvir a sequência regular da tua respiração, a velar o teu sono febril enquanto murmuravam orações… Que morriam de medo de que tivesses algum acidente, que tinham vontade chorar quando choravas por causa da picada de uma vacina (e também muita vontade de bater em quem te infligia dor), que desejavam estar no teu lugar quando caias e te ferias, que tentavam proteger-te de quem te magoava e tinham vontade de te colocar numa redoma, para te proteger de qualquer dor…
Aos tropeções, fizeram o melhor que podiam. Demasiado emocionados com os teus mais pequenos feitos, alheios ao teu coração partido de vergonha (devido às figurinhas que faziam ao saltarem de alegria por qualquer parvoíce que tu fazias e que eles achavam o máximo). E agora, que achas que já não precisas deles, indefesos e patéticos, parecem não conseguir parar. Deveriam ver-te como a pessoa adulta em que te converteste, mas pelo contrário, olham para ti e vêm todo o seu mundo.
Baseado nas páginas 289-290 do livro: Dano Irreversível, de Abigail Shrier.