Entrevista a um Prof. de Ciências da Natureza

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Olá Sr. Professor, muito obrigada por aceder a conceder-me esta entrevista.

Qual é a disciplina que lecciona? Em que ciclos?

– Lecciono Ciências Naturais do 5º ao 9º anos do ensino básico.

Há quantos anos?

– Desde 2007.

Nas aulas de ciências da natureza, aborda-se a sexualidade humana?

– Sim, faz parte da programação do 6º e do 9º anos.

De que perspectiva?

– É importante nestes anos criar uma mentalidade abrangente de respeito pelo corpo e preocupação pela saúde, de forma preventiva, como manifestação do respeito por si próprio; é a altura indicada para lhes fazer ver a razoabilidade de regras, modos de comportamento e preocupação de sustentabilidade e respeito pelos outros, aproveitando algo que lhes diz muito – o seu próprio desenvolvimento corporal e auto-conhecimento.

Aproveitando as Unidades pedagógicas da Puberdade, Reprodução Humana, Desenvolvimento Embrionário e Fetal e Crescimento, trabalha-se em ligação com os pais, com a capelania e com os preceptores o tema da sexualidade, auto-conhecimento, pudor, a auto-estima e respeito absoluto pela Vida Humana.

Este estudo reveste-se de alguma particularidade porque, apesar de, à semelhança do estudo do resto do corpo humano, nos levar a aprofundar o funcionamento do nosso corpo, diz respeito àquilo que nos caracteriza e diferencia, homem ou mulher. Ao contrário dos animais, a sexualidade humana não diz apenas respeito à reprodução, mas antes integra um conjunto das dimensões biológicas, psicológicas, espirituais e socioculturais que, desenvolvendo-se em harmonia durante a infância e a adolescência, configuram cada pessoa como homem e mulher e os preparam para uma vida adulta plena e verdadeira. Por estar ligado à geração de novas vidas, o funcionamento destes órgãos está não só ligado à sua maturação anatómica e fisiológica mas, sobretudo, à capacidade biológica de nos tornarmos pais e mães. Ou seja, o facto de estarem a funcionar não significa que a pessoa esteja preparada para fazer uso desta função pois, para se poder abraçar a maternidade e a paternidade, é preciso ser-se adulto e estar na posse de todas as nossas capacidades de forma a poder dar a vida e cuidar de outro ser humano.

Quantos sexos existem?

– Dois, masculino e feminino.

Mas, e os hermafroditas? (Não sei se este será o termo correcto, pois fui severamente repreendida num debate na TV quando o usei. Parece que o termo correcto é intersexo?) Não serão um terceiro sexo? Porquê?

– Não são um terceiro sexo. Uma espécie hermafrodita é uma espécie animal cujos indivíduos possuem órgãos sexuais funcionais dos dois sexos, masculino e feminino. A espécie humana é numa espécie sexuada dióica, ou seja, os sexos encontram-se em indivíduos separados que se reproduzem complementar e sexuadamente. Na espécie Humana podem, de facto, aparecer indivíduos com genitais com aparências alteradas e de difícil diferenciação fazendo pensar que são dos dois sexos. Mas estas anatomias patológicas resultam de processos teratológicos, ou seja, por uma má formação embrionária de génese genética (alterações do cariótipo) ou não genética (por exemplo quando a mãe toma medicamentos teratogénicos).

Há diferenças entre o homem e a mulher?

– Sim, existem diferenças orgânicas, fisiológicas, anatómicas e psicológicas entre o sexo masculino e o sexo feminino.

É possível mudar de sexo? Um homem pode ser uma mulher e uma mulher pode ser um homem desde que seja isso que sente?

– Não é possível mudar de sexo. Mesmo com os avanços tecnológicos da terapia genética é impossível alterar o património genético formado na fecundação, altura na qual se fixa a conjugação do genoma da nova pessoa. Esta conjugação entre os cromossomas presentes nos gâmetas masculino (espermatozoide) e feminino (oócito) estabelece se no par 23º do cariótipo estará a conjugação XX ou XY. Qualquer análise genética de DNA-fingerprinting feita durante o decurso da vida de um ser humano terá sempre o mesmo resultado no que se refere ao sexo. O recurso a cirurgia de plastia sexual, vulgo cirurgia plástica, que me parece ser o intuito desta pergunta apenas altera o aspecto e a função orgânica, não muda o sexo.

Os sentimentos que refere na sua pergunta referem-se a disforia de género, uma condição psicológica.

Como professor, como concilia o ensino ideológico de género – que afirma que ninguém nasce nem menino nem menina, que cada pessoa é uma folha em branco e pode escolher ser o que sente ser – com as ciências da Natureza?

– Não concilio de todo porque esse paradigma da “ideologia de género” está, no meu entendimento, errado tanto do ponto antropológico como biológico. Essa linha de pensamento é clara na nossa escola e também assim entendida pelos pais que são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos. Os pais têm o direito de escolher para eles uma escola que corresponda às suas próprias convicções e é isso que acontece com toda a liberdade na nossa escola (privada) pelos pais que nos procuram. A sexualidade humana é o conjunto de traços que resultam da condição sexuada: mulheres e homens.

Qual será o efeito do ensino ideológico de género na mente das crianças?

– Enquanto professor e pedagogo de ciência, tenho consciência que o aumento que se tem verificado em todo o mundo da prevalência pediátrica de disforias de género e das depressões infantis estarão intimamente ligadas com este afastamento entre a biologia e a psicologia que é disseminado por essa ideologia.

Sou da opinião de que a plenitude do ser humano será tanto mais feliz quanto a própria concepção de eu se coadune com a sua realidade fisiológica, quando há uma desadequação entre o intelecto e o corpo, nasce a não aceitação do eu, a tristeza, o desespero e a infelicidade.

Também o aumento da violência parece-me estar ligado muitas vezes ao desrespeito pela própria natureza humana do “eu” e à revelia contra a realidade orgânica do próprio.

Desse modo, como professor, desconstruo antropologicamente as fundações dessa linha de pensamento que são simplesmente falsas.

Como é que um professor de Ciências da Natureza fala sobre o corpo humano e as diferenças entre o homem e a mulher se tiver um aluno que se identifica como transexual em sala d’aula?

– Cada aluno, rapaz ou rapariga, está em processo de crescimento e amadurecimento ao reconhecer e aceitar a sua identidade sexual enquanto característica da sua pessoa. A harmonia deste crescimento dos alunos também contribui para o desenvolvimento social das turmas com apoio do professor e dos pares.

Posto isto, caso me fosse colocada essa situação particular o meu discurso pedagógico manter-se-ia, com a delicadeza necessária, coadunado à ciência das diferenças e das complementaridades físicas e psicológicas do homem e da mulher. Seria uma situação a ser ganha pela afectividade com o aluno, pois a afectividade é o traço humano que permite que nos relacionamos como pessoas completas… isto é, que sejamos pessoas mais plenas em relação na dimensão social. E cada um dos dois sexos tem obviamente igual dignidade nessa sociabilidade, embora sendo diferentes, manifestam a dialéctica do esplendor do ser humano.

E se o aluno se sentir discriminado?

– As normas de convivência são muito claras na escola onde estou presentemente e a ocorresse alguma discriminação por essa causa, a discriminação seria tratada e sanada como se de outra causa de discriminação se tratasse. Os alunos devem ser acarinhados e recebidos na comunidade escolar enquanto pessoas completas e os prismas da sexualidade não são a centralidade da pessoa humana, sendo apenas uma das facetas concorrentes em existência do próprio.

O que pensa da introdução da teoria de género no ensino, a partir dos 3 anos de idade?

– Penso que, se em idades mais avançadas a ideologia de género é disruptora da correcta adesão entre o intelecto e a realidade do eu, aos três anos de idade será uma total ameaça ao bom entendimento do que é ser menino e ser menina. Além disso, os primeiros educadores são os pais e que nessa idade, por maioria de razão o são, e educar a sexualidade na família é algo natural, simples, maravilhoso, enriquecedor e surpreendente. É neste contexto familiar que na primeira infância (0-3 anos) as crianças naturalmente aprendem as diferenças entre rapazes e raparigas, o que é pénis e vagina, pilinha e pipi, e o que é a gravidez; e na segunda infância (4-8 anos) é natural aprenderem com a família como aparece a gravidez pois é com naturalidade que perguntam as coisas e recebem as respostas. Os pais explicam usando as ocasiões com naturalidade, individualmente e com a verdade. A escola infantil não deve substituir-se no papel formador dos pais nem da linha educativa que estes devem imprimir segundo a sua tábua de valores familiar.

Pode dizer-nos o que é o Homem? E a Mulher?

– Um Homem é um ser vivo em estado de desenvolvimento adulto, da espécie Homo sapiens sapiens, do sexo masculino, cujo cariótipo tem na constituição 22 pares de cromossomas autossómicos + o par de cromossomas sexuais XY.

Uma Mulher é um ser vivo em estado de desenvolvimento adulto, da espécie Homo sapiens sapiens, do sexo feminino, cujo cariótipo tem na constituição 22 pares de cromossomas autossómicos + o par de cromossomas sexuais XX.

Obrigada, Sr. Professor.

(O meu amigo pediu o anonimato para não ser alvo de represálias)

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