Sempre ouvi dizer que “não se bate numa mulher nem com uma flor”, mas fui vítima de violência doméstica por parte do homem que devia proteger-me e cuidar de mim.
Infelizmente – ao contrário da narrativa progressista – a violência doméstica não é uma questão de sexo.
Numa sociedade dominada pelo activismo feminista e pela vitimização da mulher, se um homem bater na sua mulher é julgado e condenado – em praça pública e nos tribunais – e ninguém o livra de alguns anos de prisão. Se for a mulher a agredir o marido, é aclamada, e se alegar que era vítima de violência doméstica, ainda que não o consiga provar, é ilibada.
Mas, a triste realidade é que homens e mulheres são alvo desse flagelo e, independentemente do sexo do agressor, devemos ter tolerância ZERO para com a violência doméstica.
Explosão da ira reprimida
Infelizmente, num lar onde há violência doméstica o confinamento pode ser um barril de pólvora e os efeitos pós-Covid19 – desemprego e falta de dinheiro – podem contribuir para uma explosão de casos.
Violência, exercida pelo homem ou pela mulher, é destrutiva. É um erro crasso acreditar que só porque as mulheres são mais pequenas e mais frágeis (na maior parte dos casos) causam menos dano físico e psicológico às suas vítimas. Perpetuar o mito de que as mulheres não abusam dos seus maridos e de que as que o fazem não são assim tão más e, portanto, o seu comportamento abusivo não é assim tão grave, é um erro terrível. Toda a violência doméstica é uma explosão da ira reprimida, que se esconde sob um verniz finíssimo.
David Powlinson, descreve-a assim:
«A ira de uma pessoa pode ser “reprimida”… As pessoas podem estar “perturbadas”, “cheias” de raiva, a ponto de “explodir”, prestes a “extravasar”. A ira antiga, não resolvida, pode ser “guardada” e “abrigada” por anos. Se a “tirar do seu peito” até que a sua raiva seja “consumida”, sentir-se-á melhor.»
Isso é verdadeiro para muitos homens e mulheres, que nunca lidaram muito bem com as suas emoções, e acabam por as despejar sobre os mais próximos como uma espécie de “libertação”. Mas, seja qual for a “desculpa”, é abuso e não é uma questão de sexo forte ou sexo frágil, e sim da maldade do coração humano. Quando o marido, ou a mulher, se torna objecto da ira, não importa o que o agressor alegue, a verdade é que ele não foi obrigado, pelo agredido, a agredi-lo. A culpa não é da vítima e ela deve apresentar queixa e não permitir que a violência se torne o pão nosso de cada dia.
Tratar a raiz do problema é essencial para quebrar o ciclo
No entanto, acredito que é preciso cuidar de ambos. Depois de separar a vítima do agressor – caso não haja possibilidade de parar as agressões – ambos precisam ser cuidados.
Eu sei que isto não é politicamente correcto, mas nem sempre o divórcio vai parar as agressões e a separação pode servir apenas para levar a vítima a um novo agressor e o agressor a uma nova vítima.
Por isso, é urgente perceber o que está na raiz da ira do agressor:
- Ciúmes doentios? Falta de confiança no marido/esposa?
- Uma luta de poder dentro do casamento?
- Ressentimentos antigos?
- Desemprego? Falta de dinheiro?
- Passado de violência: o pai que batia na mãe, ou vice-versa?
- Maus tratos infantis?
- Alcoolismo? Toxico-dependência?
Embora as respostas não possam ser usadas como desculpa para ilibar o agressor, a verdade é que há inúmeras situações que podem nutrir a ira e que precisam ser tratadas. Procurar e tratar a raiz do problema é essencial para quebrar o ciclo.
Qual é a solução?
Fui vítima de violência doméstica durante cerca de 8 anos (dos 15 aos 23 anos); a única saída foi o divórcio. Hoje, como cristã verdadeiramente regenerada, posso dizer que sem um conhecimento de nós mesmos, do nosso próprio coração e do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, nunca acabaremos com a violência no lar.
Toda a ira – inclusive dentro da igreja – é fruto de um coração egoísta e egocêntrico, que se manifesta através do conflito e da raiva. Devemos encorajar os agressores a conhecerem a origem da sua frustração – que degenera em raiva e violência – e levá-los ao arrependimento, à confissão, e a buscar a ajuda de Deus. Só Ele, ao dar nova vida ao que creu e se arrependeu, quebra o ciclo.
Não estou a dizer que o caminho é fácil, que não perderemos muitas vezes, que não haverá mais divórcios e mais violência, mas sim a tentar despertar-nos para o facto de que agressores e vítimas precisam desesperadamente de Jesus Cristo e da vida abundante – cheia de graça e perdão – que só Ele pode dar a cada um de nós. Não é fácil aconselhar vítimas e agressores, mas precisamos fazê-lo com urgência.
Violência doméstica é caso de polícia.
E, por favor, não façamos com que um homem, que é vítima de violência doméstica, se sinta fraco e “menos homem” por ser abusado e maltratado pela mulher. Há abusos psicológicos muito mais violentos do que a violência física e há mulheres que são tão abusadoras e violentas como qualquer homem.
PS: Mulher, se o pastor da sua igreja lhe disser que é seu dever permanecer com um marido abusador, que a agride e maltrata, faça queixa à polícia, e procure um pastor que a aconselhe de acordo com a Palavra de Deus e não com conceitos machistas e anti-bíblicos.
Estimado leitor:
Se é vítima de violência doméstica, ou agressor, independentemente de ser cristão ou ateu, e precisa de ajuda, contacte-nos.