Inclusividade e igualdade: dois pesos e duas medidas

Artigo publicado no site da SALL

Marc Guéhi, futebolista (Crystal Palace), poderá enfrentar uma sanção da Federação Inglesa de Futebol (FA) depois de escrever “Eu amo Jesus” na braçadeira de capitão, no jogo frente ao Newcastle.

Em setembro Adam Smith-Connor foi condenado simplesmente por rezar silenciosamente. No sábado passado, 30 de novembro, Marc Guéhi, escreveu “Eu amo Jesus” na braçadeira LGBTQ+, que a Premier League desenhou e que, segundo o regulamento, é de uso obrigatório, e enfrentará uma sanção da FA.

As regras proíbem o uso de “slogans, declarações ou imagens políticas, religiosas ou pessoais” e o regulamento dos equipamentos da FA proíbe ainda o uso de qualquer mensagem política ou religiosa em qualquer peça de vestuário. Qualquer infração destas regras pode resultar em medidas disciplinares como sanções.

Ainda este fim de semana Sam Morsy, muçulmano, capitão do Ipswich Town, foi o único capitão que recusou usar a braçadeira LGBTQ+, optando pela habitual preta.

Em 2023, cinco jogadores do Toulouse foram dispensados do jogo contra o Nantes por terem recusado usar a braçadeira LGBTQ+.

O Governo francês afirma que esta é uma medida que defende a inclusividade e igualdade dizendo que “o objetivo da campanha era passar uma simples mensagem contra a discriminação, algo essencial num país como a França, que defende e promove os direitos humanos”.

Que inclusividade e que igualdade?

Porque razão usar braçadeiras com as cores de uma bandeira, criada pela comunidade LGBTQ+, é ser inclusivo, mas expressar a fé católica é violar as regras? Se um jogador não precisa de manifestar a sua fé para ser visto como igual, e as equipas não precisam de usar crucifixos aos pescoço para respeitar os cristão, porque razão o uso de um símbolo ideológico o será?

Quando se fala em direitos humanos devemos considerar que “os Países-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a observância desses direitos e liberdades,” (…) e “Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,” concluí-se que estas decisões violam vários artigos da Declaração Universal do Direitos Humanos:

Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 

Artigo 7
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 18
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.

Artigo 19
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Cenários idênticos em Portugal

Na semana passada podemos assistir a uma situação, em muito, semelhante a esta. Em que os princípios de inclusividade e igualdade são conceitos à disposição e não princípios fundamentais.

Qual é a diferença entre a iluminar a fachada do edifício da Assembleia da República com as cores da bandeira LGBTQ+ e pendurar lonas? Porque razão um é considerado inclusivo e outro vandalismo?

A bandeira arco-íris parece não estar sujeita ao mesmo escrutínio de outras mensagens.