Em crianças, pensavam que eram trans. Agora já não pensam. (1)

Grace Powell tinha 12 ou 13 anos quando descobriu que podia ser um rapaz.

Tendo crescido numa comunidade relativamente conservadora em Grand Rapids, Michigan, Powell, tal como muitos adolescentes, não se sentia confortável na sua própria pele. Era impopular e frequentemente vítima de bullying. A puberdade piorou tudo. Sofria de depressão e andava sempre a entrar e a sair da terapia.

«Sentia-me tão desligada do meu corpo, e a forma como ele se estava a desenvolver parecia-me hostil», contou-me Powell. Era a clássica disforia de género, um sentimento de desconforto com o seu sexo.

Ao ler sobre pessoas transgénero na Internet, Powell acreditou que a razão pela qual não se sentia confortável no seu corpo era porque estava no corpo errado. Fazer a transição parecia ser a solução óbvia. A narrativa que tinha ouvido e absorvido era a de que, se não se fizesse a transição, acabaria por se matar.

Aos 17 anos, desesperada por começar a terapia hormonal, Powell deu a notícia aos pais. Eles enviaram-na a um especialista em questões de género para se certificarem de que ela estava a falar a sério. No Outono do último ano do liceu, começou a tomar hormonas para a transição de sexo. Fez uma mastectomia dupla no verão anterior à faculdade e depois foi para o Sarah Lawrence College como um homem transgénero chamado Grayson, onde foi colocada com um colega de quarto masculino num piso para homens. Com 1,80 m de altura, sentiu que parecia um homem gay muito efeminado.

Em nenhum momento da sua transição médica ou cirúrgica, diz Powell, alguém lhe perguntou as razões da sua disforia de género ou da sua depressão. Em nenhum momento lhe perguntaram sobre a sua orientação sexual. E em nenhum momento lhe perguntaram sobre qualquer trauma anterior, pelo que nem os terapeutas nem os médicos souberam que ela tinha sido abusada sexualmente em criança.

«Gostava que tivesse havido conversas mais abertas», diz-me Powell, agora com 23 anos e detransicionada [1] «Mas disseram-me que há uma cura e uma coisa a fazer se este for o teu problema, e que isto te vai ajudar.»

Os progressistas retratam frequentemente o aceso debate sobre os cuidados a ter com os transexuais na infância como um confronto entre aqueles que estão a tentar ajudar um número crescente de crianças a expressar aquilo que acreditam ser o seu género e os políticos conservadores que não deixam as crianças serem elas próprias.

Mas os demagogos de direita não são os únicos que inflamaram este debate.

Os activistas transgénero têm promovido o seu próprio extremismo ideológico, especialmente ao insistirem numa ortodoxia de tratamento que tem enfrentado um escrutínio crescente nos últimos anos. De acordo com esse modelo de tratamento, espera-se que os clínicos afirmem a identidade de género de um jovem e até forneçam tratamento médico antes, ou mesmo sem, explorar outras possíveis fontes de sofrimento.

Muitos dos que pensam que é necessária uma abordagem mais cautelosa – incluindo pais liberais bem-intencionados, médicos e pessoas que foram submetidas a transições de género e posteriormente se arrependeram dos seus procedimentos – foram atacados como anti-trans e intimidados a silenciar as suas preocupações.

E enquanto Donald Trump denuncia a «insanidade de género da esquerda» e muitos activistas trans descrevem qualquer oposição como transfóbica, os pais no vasto meio ideológico da América podem encontrar pouca discussão desapaixonada sobre os riscos genuínos ou as contrapartidas envolvidas naquilo a que os proponentes chamam cuidados de afirmação de género.

A história de Powell mostra como é fácil os jovens serem apanhados pela atração da ideologia nesta atmosfera.

«O que deveria ser uma questão médica e psicológica transformou-se numa questão política», lamentou Powell durante a nossa conversa. «É uma confusão.»

[1] NT: detransicionado é um termo que expressa a pessoa que desistiu do seu processo de transição ou de se identificar com o sexo oposto, os efeitos, porém, do processo hormonal ou cirúrgico não são reversíveis.

Fonte

Continua: Um novo e crescente grupo de pacientes