Era ainda noite, quando um velho sábio decidiu contar sua história. Ele era conhecido por todos em uma pequena cidade, em uma nação bem distante daqui. Distante no tempo e no espaço, um lugar desconhecido, mas que se fez conhecer por sua história.
Ele era sábio e tinha atitudes corretas que evidenciavam sua sabedoria. Pouco falava, mas muito agia e assim era uma figura carismática, porém, sobre sua vida pouco se sabia. Até que um dia, um jovem aprendiz de carpinteiro lhe fez algumas questões, que intrigaram esse velho sábio. O jovem perguntou sobre sua origem, mas não como quem quer informações para passar adiante, e sim, como alguém que quer obter sabedoria. Em um primeiro momento, o velho sábio se mostrou reticente, tinha muitos sentimentos envolvidos sobre seu passado, e não pretendia falar sobre essas coisas com ninguém. E de modo inesperado, nasceu em seu coração uma pequena esperança de que aquele jovem aprendiz pudesse ouvir sua história e de alguma forma aprender princípios que mudariam a história daquele país.
O velho sábio começou seu conto com uma lembrança bem antiga de sua nação, tempos remotos em que reis não demonstravam compaixão pelo povo, diziam palavras bonitas, usurpavam o lugar de segurança, enganavam sem remorsos, entregavam mentiras como quem entrega soluções. Mas, por parecerem simpáticos, todos acreditavam, e a miséria era cada vez maior, e grande parte do povo sequer desconfiava quem eram os verdadeiros culpados por todo sofrimento.
Havia parte do povo que criticava as medidas adotadas pela monarquia, pois, para fornecer alimento e água racionada, a monarquia retirava todo o direito do povo, a ponto de impedir que muitos conseguissem desenvolver seu próprio negócio ou ainda que tivessem outras opções para praticar suas atividades. Mas a maior parte do povo não reclamava, ficava satisfeito com o pouco porque era melhor que nada.
Levantou-se um grupo de resistência nessa terra distante, alguém que começou a fazer justiça, a punir aqueles que enganavam o povo em troca de migalhas, aqueles que utilizavam as riquezas da terra em benefício próprio, o povo começou a perceber o que estava por trás da história, que eram vítimas daqueles que pensavam ser seus salvadores. O mais incrível foi imaginar que seria possível viver em uma nação justa e correta.
Neste tempo, a cultura de crimes e subtração de riquezas começou a mudar, aqueles crimes que nunca eram julgados, que eram esquecidos e que se transformavam em um inconsciente popular de impunidade geral, passaram a ser descobertos e investigados, o povo começou a acreditar que era possível exigir honestidade de seus representantes. Ainda com muita coisa para melhorar, mas com um caminho e uma nova esperança.
Até que tudo pareceu perdido, quando esse grupo de resistência de pessoas justas e corretas foi impedido de continuar a fazer a justiça, foi impedido de dizer o que é direito. Houve grande tristeza em todo povo, toda a esperança de uma vida melhor parecia fugir dos corações. A impunidade e inconsequências de tempos passados assombravam nessa nova fase, aterrorizavam o trabalho de muitos que já não estavam cegos por amarras.
Mas o povo, que agora já conhecia seus direitos, já entendia o jogo político ali perpetrado, não se calou, não se rendeu, pelo contrário, percebeu que tinha o poder nas mãos, buscou fazer valer a sua voz e toda ordem, lutou dentro das leis e respeitando a todos, não permitiu que novos ditadores tomassem o poder. Agiu o quanto conseguiu.
O jovem aprendiz ficou muito admirado de toda a história contada, e questionou se era tudo verdade mesmo, se algum dia seria possível punir criminosos ricos e poderosos, se algum dia o povo seria capaz de se unir de verdade em prol da nação, duvidou que seria possível estabelecer um país democrático que sobrevivesse a mandos e desmandos de quem representa o poder que pertence ao povo. E o velho sábio disse: toda essa história é verdade, mas ela não faz parte do meu passado, faz parte do seu futuro, não desista de acreditar no seu país, não desista de acreditar na justiça da sua nação, uma noite traz sabedoria à outra e não há nada que esteja encoberto que não venha a ser revelado, muito podem tentar destruir uma nação, mas a capacidade de resposta está na força individual de cada cidadão que escolhe ser honesto, que escolhe seguir as virtudes, que escolhe o que é justo e correto. Esses ainda são a maioria, ainda farão a diferença se não desistirem.