
Cecília estava no carro com os seus 5 filhos a caminho do clube, quando Diego, o mais velho, de apenas 7 anos, lhe perguntou: «Mãe, o dedo médio da mão é ruim?».
Às vezes, os pais não estão preparados para todas as perguntas que os filhos fazem, mas é muito bom que eles confiem em nós para responder às suas perguntas e encontrar uma resposta que as preencha.
Diante de dúvidas, existem 3 alternativas:
- Fugir, fingindo que não ouviu nada e passando para outro assunto ou deixando a situação para depois com frases como: “Depois explico-te”…
- Responder incorretamente, dizendo meias verdades ou coisas que não são verdadeiras
- Responder com clareza e verdade.
Certamente, não é fácil responder-lhes a verdade porque não sabemos até que ponto estarão prontos para entendê-la, mas o certo é que devemos responder. Se fingirmos que não ouvimos ou deixarmos para depois e não respondermos, nossos filhos interpretarão que as suas perguntas não nos interessam. Assim, no futuro, optarão por não nos perguntar nada e pesquisarão directamente na Internet[1]. Se perdermos esses momentos de curiosidade, gradualmente perderemos a confiança deles e com ela a possibilidade de influenciar positivamente as suas vidas.
Entenda o contexto
“Diz-me, Diego, por que me perguntas se o dedo médio é um dedo ruim?”, perguntou Cecília, enquanto pensava em como poderia responder a uma pergunta simples, mas ao mesmo tempo complexa.
Fazer perguntas guia-nos para o “quê” e “por quê” os nossos filhos procuram saber. Não podemos correr o risco de exagerar dando-lhes informação que eles não procuram no momento confundindo-os ainda mais.
Outra coisa a ter em conta é o diálogo, um vai-e-vem de ideias, para que a criança não se canse de nos ouvir durante toda a explicação.
-A minha prima Valéria contou-me. Mas eu não entendo porque e ela também não sabe. – Respondeu Diego.
A verdade, mas adaptada às suas idades
O bom de partilhar perguntas e respostas com as crianças é que os pequenos podem aprender com as dúvidas dos mais velhos e, se os pais souberem aproveitar esses momentos, as crianças saberão que podem sempre recorrer a eles para obter respostas às suas preocupações. Cecília acha correcto explicar ao filho o motivo pelo qual a sociedade considera o dedo do meio uma ofensa, para que ele possa entendê-lo e saber que as regras de convivência e boas maneiras têm um fundamento, uma razão de ser, que não existem por existir.
Fornecer argumentos e ideias positivas ligadas ao tema central é extremamente enriquecedor para a educação das crianças, aproveitando o momento da pergunta para lhes incutir outras ideias, também positivas, ligadas ao tema central da conversa.
-Diego, tu mostras as tuas partes íntimas a toda a gente?
-Nããão mãe! Que vergonha! – comentou.
-Isso mesmo, Diego, mas além de ficar envergonhado, seria uma falta de respeito para contigo mesmo e com outras pessoas, porque as partes íntimas são privadas e ninguém tem que as ver, tu cuidas delas, respeita-las e não as exibes para abusar dos outros nem as ridicularizas.
-Sim, mãe, eu sei, mas o que é que isso tem a ver com o dedo do meio?
Para que as crianças incorporem os argumentos, é necessário usar certos paralelos cotidianos a fim de facilitar a memorização. Se a explicação for muito teórica, será difícil para eles reter a informação e lembrar da resposta.
-O dedo médio é um dedo muito útil, não é?
-Sim! – respondeu o menino.
–É um dedo como qualquer outro dedo da mão, que serve para escrever, comer, pintar, brincar. No entanto, algumas pessoas usam-no com más intenções, identificando-o com o pénis, que é uma parte íntima do homem.
O silêncio no carro era o mesmo que se faria sentir em casa às 2 da manhã, quando todos dormem. Cecília questionava-se se teria feito a coisa certa ao dar-lhe aquela resposta, porque não tinha certeza se o filho seria capaz de a interpretar correctamente. Ela esperou que ele dissesse alguma coisa, mas nada aconteceu.
Uma vez que começamos com uma discussão, o ideal é terminar a ideia de forma simples, concreta e sempre verdadeira. Certifique-se de que o seu filho entendeu a explicação. Deixar morrer o assunto, sem ter certeza de que ele entendeu, pode ser perigoso porque não temos certeza se a preocupação do nosso filho foi respondida ou se ele a interpretou de outra forma.
Como não acontecia nada, Cecília quebrou o silêncio e, para ajudar o filho a deduzir a resposta, disse:
–Algumas pessoas, quando estão zangadas ou insatisfeitas com algo que lhes acontece, usam um sinal feito com esse dedo para ofender, como se estivessem a mostrar a parte íntima de forma grosseira e desrespeitosa. Assim, da mesma forma que não mostras as tuas partes íntimas quando estás com raiva, também não deves fazer esse gesto.
-Por isso o primo disse que era feio, concluiu o menino.
Deixar que ele mesmo encontre uma resposta fará com que ele assimile a ideia e consiga lembrá-la com mais facilidade, embora, devido à idade, ele possa esquecer a explicação e ter que repeti-la em algum momento.
Conclua a ideia transmitida com uma frase curta e repita-a várias vezes
Recomenda-se que a pergunta termine com as ideias mais importantes e conclusivas, para garantir que a criança entendeu, pois dependendo da personalidade de cada um (algumas são mais comunicativas do que outras), elas podem não nos dizer se não entenderam bem ou podem ter vergonha de dizer que não ficou claro para elas.
Como já haviam chegado ao seu destino, Cecília achou importante terminar a explicação com ideias curtas e concretas.
-Então Diego, o dedo médio não é um dedo feio ou ruim. É um dedo como qualquer outro. As pessoas usam-no de forma grosseira quando estão com raiva, como se estivessem a mostrar uma parte íntima de forma abusadora, com o propósito de incomodar ou ofender, e é isso que é feio.
O menino assentiu.
-Todas as partes do corpo são boas, mas o uso que fazemos delas é que torna o acto feio ou ruim. – Disse Cecilia e repetiu novamente.
Depois dessa conversa, Diego não voltou a perguntar sobre o dedo médio, mas já contou aos pais que tinha visto outras crianças a usá-lo de forma grosseira, o que mostra que ele entendeu perfeitamente o significado do gesto.
Responder correctamente aos nossos filhos não é uma tarefa fácil. Não são coisas que aprendemos na faculdade. As crianças não vêm com um manual de perguntas e respostas, mas isso não é um problema, porque felizmente temos ferramentas para superar essa dificuldade.
Como fazê-lo?
- Com a prática: aprendemos a responder respondendo. Sempre. Mesmo que naquele momento não tenhamos a resposta, podemos pedir-lhes um tempo para pesquisar e conversar com alguém a fim de lhes dar uma boa resposta. Por exemplo: «Olha filho, já que eu te quero responder bem a essa pergunta tão interessante, gostaria de pensar bem na resposta para te responder com toda a segurança.» E lenta mas seguramente, pense bem e não demore muito.
- Dedicar tempo e espaço ao diálogo com eles: para cumprir a recomendação anterior, é necessário passar tempo com os nossos filhos. Muitos pais afirmam que não passam muito tempo, mas passam um tempo de qualidade porque os levam ao cinema, ao campo ou partilharam alguma actividade desportiva. Tudo bem, mas devemos ter em mente que as perguntas e dúvidas das crianças surgem depois de passarmos tempo com elas, em momentos descontraídos, passeios de carro, uma tarde de jogos, algumas horas de partilha. A confiança é criada ao lidar com eles. Se passamos pouco tempo juntos, a confiança leva mais tempo a ser construída. Se eles estão entretidos com um filme, a jogar futebol ou a assistir a uma partida de ténis, eles podem não nos fazer perguntas. É preciso estar com eles, fazer as refeições em família, dar-lhes banho (principalmente às crianças pequenas), ter momentos diários e mostrar-nos disponíveis (sem telemóvel, sem TV).
- Com formação: procurar cursos de paternalidade, workshops e palestras. Ler livros. Em muitos materiais para pais, são apresentados casos reais, como o de Cecília, que nos ajudam a aprender a dar respostas. Eles vão abrir as nossas mentes e tornar mais fácil falarmos naturalmente e sem que as perguntas dos mais pequenos nos causem stress.
[1] Artículo “Se el google de tus hijos” por Ma. Luisa Estrada de Velez y Juan Francisco Velez. http://www.protegetucorazon.com/se-google-hijo/