O meu filho é hiper-activo?
O pediatra diz que acredita que o meu filho pode sofrer de TDAH [transtorno do déficit de atenção devido à hiper-actividade]. O senhor pode dizer-me o que sabe sobre este problema?
DDA, ou distúrbio do déficit de atenção, parece ser uma síndrome neurológica herdada que afecta aproximadamente 10% das crianças entre 4 e 17 anos. Ela refere-se a indivíduos que se distraem facilmente, têm baixa tolerância para o tédio ou frustração e tendem a ser impulsivos e caprichosos. Alguns deles são também hiper-activos e, portanto, são diagnosticados como tendo TDAH.
Essas crianças têm um padrão de comportamento que as leva ao fracasso na escola e ao conflito com os pais. Elas têm dificuldade em terminar tarefas, lembrar-se de detalhes, concentrar-se num livro ou trabalho, ou até permanecer sentadas por mais de alguns minutos. Algumas parecem ser internamente dirigidas enquanto correm desvairadamente de uma coisa para outra. São, no geral, inteligentes e criativas, sendo, todavia, consideradas preguiçosas, destrutivas e terrivelmente desorganizadas. As crianças com TDAH ou DDA quase sempre sofrem de baixa auto-estima por terem sido tachadas de irresponsáveis ou anarquistas que se recusam a seguir as regras. No geral têm poucos amigos, porque conseguem enlouquecer quase todo o mundo – até os da sua própria idade.
Como posso saber se o meu filho tem TDAH?
Não é recomendável tentar fazer algum diagnóstico do próprio filho ou filha. Há muitos outros problemas, psicológicos e físicos, que podem causar sintomas similares. Desordens da tiróide, por exemplo, podem tornar a criança hiper-activa ou preguiçosa; a depressão e a ansiedade podem causar desatenção associada à DDA. Portanto, você deve ter a assistência de um médico, um especialista em desenvolvimento infantil, ou um psicólogo que possa confirmar o diagnóstico.
Se observar no seu filho os sintomas que descrevi, recomendo que ele seja examinado por um profissional. Repito: você não deve fazer o diagnóstico do seu filho. Quanto mais cedo puder levá-lo a um profissional especializado nesta área, melhor.
O que é que causa o distúrbio de déficit de atenção?
Acredita-se que seja herdado. Russel Barkley, do Centro Médico da Universidade de Massachussetts, calcula que 40% das crianças com DDA (e, por implicação, TDAH)têm um dos pais com sintomas similares, e 35%, um irmão ou irmã afectados. Se um gémeo idêntico é afectado, as probabilidades são entre 80% e 92% de que o outro também o será. A DDA é de duas a três vezes mais provável de ser diagnosticada nos meninos do que nas meninas.
A causa da DDA é desconhecida, sendo, porém, provavelmente associada a leves diferenças na estrutura do cérebro, nas vias nervosas, química, suprimento sanguíneo ou sistema eléctrico. Consulte: https://www.mdsaude.com/psiquiatria/tdah/#Causas
Ouvi dizer que a DDA é controversa e que pode até não existir. O sr. evidentemente discorda.
Discordo, embora o distúrbio se tenha tornado moda e tenda a ser excessivamente diagnosticado. Mas, quando a criança tem realmente este problema asseguro-lhe que os seus pais e professores não têm que ser convencidos disso.
A DDA desaparece quando as crianças crescem?
Costumávamos acreditar que o problema era eliminado com o início da puberdade. Foi isso que aprendi no ensino médio. Sabe-se agora que a DDA é uma condição para a vida inteira, geralmente influenciando o comportamento desde o berço até à sepultura. Alguns adultos com DDA aprendem a ser menos desorganizados e impulsivos com a idade. Eles canalizam a sua energia para as actividades desportivas e profissões em que funcionam bem. Outros têm dificuldade em estabelecer-se numa carreira ou manter o emprego. A persistência permanece um problema, pois eles esvoaçam de uma tarefa para a outra. São particularmente inadequadas para o trabalho de escritório, contabilidade ou outros serviços que exijam atenção aos detalhes, longas horas sentados e a capacidade de jogar muitas bolas ao mesmo tempo.
Outra consequência da DDA na adolescência e idade adulta é a ânsia de se envolver em actividades arriscadas. Mesmo quando crianças, as pessoas com DDA são inclinadas aos acidentes. Quando ficam mais velhas, subir penhascos, bungee jumping, corridas de carro, andar de moto, fazer rafting e actividades afins estão entre as suas ocupações favoritas. Os adultos com DDA são algumas vezes chamados de “viciados em adrenalina” por estarem obcecados pelos “altos” produzidos pelo fluxo de adrenalina associado com o comportamento perigoso. Outros são mais susceptíveis a uso de drogas, alcoolismo e comportamentos viciados.
Alguns dos possuidores de DDA apresentam também um risco maior para o conflito conjugal. Pode ser muito irritante para um marido ou esposa compulsivo, altamente organizado, tem como cônjuge um “desordeiro” — ou alguém cuja vida é caótica e que se esquece de pagar as contas, consertar o carro ou manter em ordem os documentos para o IRS. Um casal assim, geralmente, precisa de aconselhamento profissional para os ajudar a aprender a trabalhar juntos e tirar proveito dos pontos positivos um do outro.
Que tipo de tratamento existe?
O tratamento envolve uma série de factores, começando com a educação. O adulto com DDA, geralmente, fica muito aliviado ao saber que tem uma condição identificável e que pode ser tratada. O dr. Robert Reid, da Universidade de Nebraska, chama-lhe “rótulo do perdão”. Ele declarou: “Os problemas da criança não é a falta dos pais, dos professores, nem dela própria”. Essas são boas notícias para a pessoa que ouviu durante toda a sua vida que é tola, idiota, preguiçosa, detestável e “estraga-prazeres”.
O primeiro passo para reconstruir o auto-conceito de um adulto é então compreender as forças que operam internamente. O meu conselho para esse indivíduo e sua família é ler, ler, ler!
O sr. preocupa-se com a ideia de que os medicamentos – Ritalina ou Concerta – serem prescritos em excesso? Devo evitar em dá-los ao meu filho de 10 anos que é muito hiper-activo?
Eu preocupo-me realmente em dar essas drogas por capricho e pelas razões erradas. Há relatórios preocupantes acerca da quantidade de crianças medicadas para um transtorno que muitas nem sequer têm E esse é uma enorme sinal vermelho. Medicamentos com receita têm sido usados como uma panaceia para todos os tipos de comportamento. Isso é lamentável. Suspeito que alguns pais e professores medicam as suas crianças rebeldes porque deixaram de as disciplinar como deviam ou porque preferem vê-las sedadas. Todos os medicamentos têm efeitos colaterais indesejáveis e só devem ser administrados depois de cuidadosa avaliação e estudo. O Ritalin, por exemplo, pode reduzir o apetite e causar insónia em alguns pacientes. Não obstante, é considerado notavelmente seguro.
Se o seu filho foi avaliado e diagnosticado como tendo DDA por um profissional experiente no tratamento deste problema, então, aceite sem hesitar a sua receita para um medicamento apropriado. Algumas mudanças comportamentais dramáticas podem ocorrer quando a substância certa é identificada para uma determinada criança. Um menino que fica sentado olhando o vazio ou outro que trepa às paredes estão desesperadamente necessitados de ajuda. Das a esse indivíduo o controle mental interno e concentrado é uma bênção. Muitas vezes, a medicação funciona exactamente desse modo quando o diagnóstico adequado é feito.
Pessoalmente, acredito que alguns dos meninos sob suspeita de DDA e TDAH não têm o distúrbio. Pelo contrário, os seus sintomas são causados por terem sido tirados da segurança das suas casas e colocados em situações de aprendizado estruturadas antes de estarem prontos. Se permitirmos que esses meninos imaturos fiquem em casa mais um ano ou dois, penso que a incidência de meninos irrequietos e desatentos diminuirá.
Livro “Criando Meninos”, págs. 43-47
Autor: Dr. James Dobson, fundador da organização Foco na Família, psicólogo e autor de diversos livros, possui doutoramento em Desenvolvimento Infantil pela Universidade de Southern Califórnia.