Nos últimos 36 meses, tem havido um aumento acentuado do escrutínio da prática da transição de género dos jovens em todo o mundo. Revisões sistemáticas de evidências da Europa não conseguiram demonstrar as esperadas melhorias significativas no funcionamento da saúde mental dos jovens e expuseram riscos significativos, incluindo riscos demonstrados para o desenvolvimento ósseo [33••, 34••, 35, 36].
Em consonância com estas conclusões, nos últimos 3 anos, três países europeus – Finlândia, Suécia e Inglaterra – inverteram a sua crença inquestionável nos “cuidados afirmativos”, estabelecendo novas políticas nacionais de saúde que dão prioridade às intervenções de saúde mental como o primeiro e muitas vezes único tratamento disponível fora de contextos de investigação clínica [86, 87••, 88].
Este ajuste de contas também começou em França, na Austrália, no estado americano da Florida e, mais recentemente, na Noruega [89-92]. Muitas leis estaduais dos EUA foram introduzidas para limitar ou proibir as transições de género dos jovens [93]. A relutância das sociedades médicas norte-americanas em reconhecer os problemas aparentes com a “afirmação de género” médica dos jovens pode ter contribuído para a infeliz e evitável politização desta questão complexa.
Conclusões
O preenchimento dos critérios de diagnóstico de disforia de género (DSM) ou de incongruência de género (CID) em crianças ou adolescentes não prevê a sua persistência no futuro. Os médicos podem estar incorrectos nas suas suposições sobre as causas, a persistência e a trajetória futura da disforia de género na adolescência. O rápido aumento do número de jovens com disforia de género tratados com hormonas e cirurgias e o início tardio do arrependimento significam que a escala de possíveis danos iatrogénicos não será conhecida durante vários anos.
A base de provas para as intervenções de afirmação do género é escassa e de muito baixa qualidade. Embora as provas dos benefícios sejam altamente incertas, os danos para as funções sexuais e reprodutivas são certos, e existem muitas incertezas sobre os efeitos a longo prazo na saúde. Consequentemente, é difícil justificar eticamente a continuação da utilização de hormonas e cirurgias como “tratamento” de primeira linha para jovens com disforia de género.
Os argumentos políticos baseados na justiça social, nos direitos civis e na liberdade de expressão são convincentes e poderosos na arena pública. Poucos profissionais de saúde mental argumentariam contra estes direitos humanos vitais. No entanto, estes tendem a complicar a reflexão dos clínicos sobre a forma de responder aos adolescentes com disforia de género e às suas famílias.
Contribuição dos autores: Ambos os autores contribuíram para a concepção e projecto desta revisão. O primeiro rascunho do manuscrito foi escrito por Stephen Levine. Ambos os autores contribuíram para a sua evolução. E. Abbruzzese forneceu a maior parte da revisão da literatura. Ambos os autores reviram criticamente e aprovaram o manuscrito final.
Disponibilidade de dados: A partilha de dados não é aplicável, uma vez que não foram gerados ou analisados novos dados durante este estudo.
Declarações
Conflito de Interesses: Os autores declaram não haver interesses em conflito.
Direitos Humanos e dos Animais e Consentimento Informado: Este artigo não contém quaisquer estudos com seres humanos ou animais realizados por qualquer um dos autores.
Tradução: Maria Azevedo (associada)
Fonte c/referências bibliográficas