
Autores: Stephen B. Levine 1 . E. Abbruzzese 2
Publicado em: Current Sexual Health Reports
Publicado online: 14 Abril 2023
1 Department of Psychiatry, Case Western Reserve University, Cleveland, OH, USA
2 Society for Evidence-Based Gender Medicine (SEGM), Twin Falls, ID, USA
Resumo
Objetivo da revisão Os resultados de estudos a longo prazo de populações transgénero adultas não conseguiram demonstrar melhorias convincentes na saúde mental, e alguns estudos sugerem que existem danos associados ao tratamento. O objetivo desta revisão é esclarecer preocupações acerca da rápida proliferação de cuidados hormonais e cirúrgicos para o número recorde de jovens que declaram identidades transgénero e procuram procedimentos de mudança de sexo.
Descobertas recentes As revisões sistemáticas de provas realizadas pelas autoridades de saúde pública da Finlândia, Suécia e Inglaterra concluíram que a relação risco/benefício da transição de género dos jovens varia entre desconhecida e desfavorável. Consequentemente, tem havido uma mudança dos “cuidados de afirmação de género”, que dão prioridade ao acesso a intervenções médicas, para uma abordagem mais conservadora que aborda as comorbidades psiquiátricas e explora de forma psicoterapeutica a etiologia do desenvolvimento da identidade trans. O debate sobre a segurança e a eficácia dos “cuidados de afirmação do género” nos EUA só recentemente começou a surgir.
Resumo A questão “Será que os benefícios das transições de género dos jovens compensam os riscos de danos?” continua sem resposta devido à escassez de dados de acompanhamento. As conclusões das revisões sistemáticas de evidências para os adolescentes são consistentes com os estudos de longo prazo para adultos, que não conseguiram mostrar melhorias credíveis na saúde mental e sugeriram um padrão de danos associados ao tratamento. Três artigos recentes examinaram os estudos que sustentam a prática da transição de género de jovens e concluíram que a investigação tem profundas falhas. As provas não apoiam a noção de que os “cuidados afirmativos” dos adolescentes de hoje têm benefícios líquidos (NT: benefício líquido é determinado pela soma de todos os benefícios e pela subtração da soma de todos os “custos”, ou danos, neste caso). As questões sobre a melhor forma de cuidar do número crescente de jovens com disforia de género geraram uma intensidade de divisão dentro e fora da medicina raramente vista noutras incertezas clínicas.
Uma vez que está em causa o bem-estar futuro dos jovens doentes e das suas famílias, a área deve deixar de se basear em argumentos de justiça social e regressar aos princípios consagrados da medicina baseada na evidência.
Palavras-chave Transgénero – Disforia de género – Incongruência de género – Bloqueadores da puberdade – Cuidados de afirmação do género – Protocolo holandês
Introdução
A base fundamental para a preocupação com as intervenções de “afirmação do género” para adolescentes, e crianças em transição social que em breve serão adolescentes, é a forma como se irão comportar nas décadas seguintes [1•]. Existem lacunas significativas no conhecimento sobre o equilíbrio entre os benefícios e os danos à medida que os doentes vivem as suas vidas.
Há mais de 25 anos que a medicina disponibiliza tratamentos para adolescentes identificados como transgénero [2-6]. Estes tratamentos surgiram no final da década de 1980 e início da década de 1990, em grande parte em resposta aos resultados abaixo do standard dos adultos transicionados, com a esperança de que a transição de género precoce pudesse melhorar os resultados [3]. Apesar das afirmações sobre a natureza salvadora de vidas da transição de género para adultos, nenhum dos muitos estudos demonstrou de forma convincente benefícios psicológicos duradouros. Os estudos a mais longo prazo, com as metodologias mais sólidas, relataram um aumento acentuado da morbidade e mortalidade e um risco persistentemente elevado de suicídio pós-transição entre os adultos transicionados [7, 8••, 9].
A falta de provas credíveis dos benefícios da transição de género tornou-se evidente para os jovens identificados como transgénero, cujo número aumentou acentuadamente. A apresentação da disforia de género mudou significativamente nos últimos anos [10]: a proporção entre os sexos dos jovens que se apresentam em contextos médicos inverteu-se de primordialmente masculina para primordialmente feminina [11], com a preponderância de jovens cuja identidade transgénero surgiu pela primeira vez na adolescência e no contexto de significativas doenças mentais e perturbações neurocognitivas pré-existentes [12]. Estas mudanças começaram a manifestar-se por volta de 2006, mas tornaram-se pronunciadas por volta de 2014-2015 [13]. No entanto, muitos clínicos e decisores políticos promulgam que a ciência há muito estabeleceu os benefícios da transição de género para estes adolescentes [14-18].
Nunca houve uma disputa sobre se as intervenções médicas e cirúrgicas podem feminizar ou masculinizar características sexuais secundárias e algumas primárias. Para as crianças e adolescentes, o debate não é se tais transformações são possíveis, mas sim “em que idade é que os jovens podem consentir de forma significativa”, “ao preencherem que critérios” e, talvez o mais importante, “só porque podemos – devemos?” [1•]. Estas questões têm provocado uma intensidade de divisão dentro e fora da medicina raramente vista noutras incertezas clínicas [18-22]. Esta paixão reflecte uma priorização decididamente diferente da evidência científica, da ética médica e dos valores sociais. Abordamos cada um deles a seguir.
Próximo post: Desacordo sobre as provas científicas
Tradução: Maria Azevedo (associada)
Fonte c/referências bibliográficas