A segurança é uma preocupação dominante para os pais. A minha geração tornou as nossas casas à prova de bebés, ficou obcecada com as cadeiras de automóvel mais seguras e boicotou as festas do pijama. Mas, por muito que tentemos, não conseguimos evitar o sofrimento.
Um exemplo disso encontra-se num artigo revelador da edição de 7 de Novembro da Time, onde Susanna Schrobsdorff nos diz que os pré-adolescentes e adolescentes que criámos são mais ansiosos, sobrecarregados e deprimidos do que a geração anterior.
Mais de seis milhões de adolescentes, nos EUA, foram diagnosticados com um distúrbio de ansiedade, o que corresponde a 25% da população adolescente. Após vários anos de estabilidade, a depressão entre os jovens do ensino secundário está a aumentar. De acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, 12,5% dos adolescentes, com idades entre os 12 e os 17 anos, tiveram pelo menos um episódio depressivo grave em 2015. Este valor é superior aos 4,6 por cento registados em 2006.
O sintoma característico
Embora não seja universal entre as crianças com depressão e ansiedade, Schrobsdorff observa que a auto-mutilação não suicida “[parece] ser o sintoma característico das dificuldades de saúde mental desta geração”. Sabemos que o stress financeiro familiar pode exacerbar a ansiedade. Os estudos também mostram que as raparigas correm mais risco de sofrer de depressão do que os rapazes. Mas é mais difícil quantificar quantos adolescentes se estão a cortar, porque são deliberadamente secretistas.
Schrobsodorff conta a história de Faith-Ann, uma aluna do oitavo ano que se cortou pela primeira vez a meio da noite, enquanto os pais dormiam. Sentou-se na borda da banheira em sua casa e cortou as costelas com o clipe de metal de uma caneta: “Havia sangue e uma sensação de profundo alívio”.
A ligação entre saúde mental e tecnologia
Schrobsdorff concentra-se nas causas potenciais. Está particularmente interessada nas ligações entre a saúde mental dos adolescentes e a sua utilização da tecnologia: “Embora os adolescentes possam estar na mesma sala que os pais, podem também, graças aos seus telemóveis, estar imersos num doloroso emaranhado emocional com dezenas de colegas de turma”.
A aquisição do primeiro smartphone é um rito de passagem na nossa cultura. Os miúdos têm-nos cada vez mais cedo. Os especialistas alertam para a distração viciante dos trabalhos escolares e para o perigo de expor as crianças a bullies online, predadores sexuais infantis e sexting (NT: “fazer sexo” por mensagem). Estas realidades exigem a mesma vigilância em relação à segurança na Internet que demonstrámos na protecção dos bebés. Os pais devem saber como configurar as restrições de um telemóvel e encontrar um plano que permita monitorizar as mensagens de texto. E os pais devem ensinar competências para navegar no mundo das redes sociais, começando por limitar o acesso e depois dando cada vez mais liberdade à medida que os filhos demonstram uma responsabilidade crescente.
Mas, mesmo com estas precauções, um perigo mais subtil das crianças terem smartphones é expor as crianças a uma experiência profunda dos seus próprios sentimentos antes de terem a capacidade de os processar. Os adolescentes são desenhados para a estimulação. As reacções emocionais de um cérebro adolescente podem parecer urgentes e avassaladoras. Com o aumento da hiperconexão, mesmo os jovens das zonas rurais estão cada vez mais expostos ao que Schrobsdorff descreve como “uma selva nacional de drama na Internet”. Schrobsdorff escreve: “Ser adolescente hoje em dia é um trabalho esgotante a tempo inteiro, que inclui fazer os trabalhos escolares, gerir uma identidade nas redes sociais e preocupar-se com a carreira, as alterações climáticas, o sexismo, o racismo – tudo o que quiser.”
Ajudar os adolescentes a lidar com os seus sentimentos
Não nos deve surpreender o facto de as crianças que estão mais ligadas socialmente terem uma maior consciência das fraquezas do mundo e terem sentimentos profundos acerca disso. O Dr. Brent Bounds, psicólogo clínico que foi director dos Ministérios da Família na Igreja Presbiteriana Redeemer em Nova Iorque, diz que é importante criar uma cultura em que seja seguro falar sobre estas emoções quando elas surgem.
Os pais não podem forçar a vulnerabilidade, mas podemos servir de modelo. E podemos fazer com que as crianças saibam que não é errado sentir-se profundamente triste.
O nosso objectivo não deve ser mudar a forma como se sentem, mas simplesmente reconhecer as emoções dos nossos filhos e afirmar o nosso amor. Bounds disse-me: “Por vezes, os pais sentem que têm de ter todas as respostas para que os seus filhos se sintam seguros. Mas uma das respostas mais libertadoras que um pai pode dar ao seu filho é: ‘Não sei. Mas gosto muito de ti e quero apoiar-te e ajudar-te como puder.’ ”
Quando a conversa é aberta com um adolescente, os pais podem simplesmente reflectir sobre o que o filho pode estar a sentir – “Pareces muito zangado neste momento. Será que estás zangado comigo e não sabes como falar sobre isso?” ou “Uau, é uma situação muito difícil. Imagino que te sintas sobrecarregado”. Utilizando esta mesma técnica de reflexão, um pai pode ajudar a construir o vocabulário emocional de uma criança desde tenra idade. Isto prepara as crianças para enfrentar sentimentos mais complexos quando entram na adolescência.
Ajudar os nossos filhos a desenvolver a auto-consciência sobre as suas emoções é um caminho para os ajudar a desenvolver também o auto-cuidado. Um adolescente tem de identificar que as redes sociais desencadeiam a sua ansiedade antes de compreender a necessidade de gerir essa ansiedade de forma saudável – talvez pousando o telemóvel e indo dar uma corrida.
E se o meu filho se tiver magoado a si próprio?
Quando uma criança diz que se magoou a si própria, os pais ou pastores devem, em primeiro lugar, reconhecer o risco que o adolescente correu ao ser vulnerável. Reconhecer a coragem do adolescente e depois ouvir. É difícil de o fazer. Bounds observa: “A maioria dos pais fica compreensivelmente preocupada quando descobre que um filho se está a cortar, mas tende a reagir de uma forma que não atrai o adolescente, mas que o fecha”.
Saiba que não está fora do normal que um adolescente se corte em algum momento. As perguntas importantes a fazer são: Onde é que se cortaram? (As zonas mais preocupantes são o interior dos pulsos, os antebraços e a parte interna da coxa.) O que é que usaram para se cortarem? E com que frequência/quantidade é que isso aconteceu? Embora queiramos respeitar a privacidade dos nossos filhos, se tivermos conhecimento de que uma criança se está a magoar a si própria, devemos levá-lo a sério e pressioná-lo.
Por vezes, a auto-mutilação resulta de um sentimento de impotência e de desejo de controlo. Adolescentes como Faith-Ann dizem que a auto-mutilação revive a dor interior, “deixando sair os sentimentos”. O desejo pode vir de uma crença profunda da criança de que ela não é suficientemente grande para conter os sentimentos que está a sentir. O desejo de se cortar pode até ser um testemunho emocional profundo da verdade de que o aumento da consciência social ou da advocacia social não expiará os pecados do mundo. O nosso quebrantamento só é curado com o derramamento de sangue (Heb. 9:22); mas é do Salvador, não nosso.
Como me advertiu o Dr. Scott James, médico/pesquisador pediátrico e ancião da Igreja de Brook Hills em Birmingham, Ala (NT: Alabama), não é absolutamente necessário que cheguemos a uma explicação completa do motivo pelo qual isso está a acontecer: como médico, aprendi que, no que diz respeito à saúde mental, tenho de abandonar a ideia de que serei sempre capaz de abrir o capuz e chegar ao fundo do que o doente está a sentir/fazer. A empatia é importante, mas é uma arrogância pensar que devemos ser sempre capazes de identificar e abordar correctamente os motivos exactos de cada pessoa.
Esta é uma posição de compromisso compassivo que põe de lado a tentativa de ser o herói e o salvador. A partir desse lugar de humildade, podemos apontar para Cristo, o verdadeiro consolador e curador. Jesus compreende. “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas temos um que foi tentado em tudo, como nós, mas não pecou. Por isso, aproximemo-nos com confiança do trono da graça de Deus, para recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude nos momentos de necessidade” (Heb. 4:15-16).
Por Jared Kennedy , 21 Agosto 2018
Traduzido pela associada: Maria Azevedo