Os danos irreversíveis da ideologia trans (3)

Publicado no SOL

Ignorando o trágico número de arrependimentos, entre jovens que já fizeram a “mudança de sexo” e que desejam voltar ao seu sexo biológico, e o facto de haver países como a Suécia[1] a acabar com os tratamentos de transição em crianças, que se autodeterminam do outro sexo, ou seja: segundo o conceito de “identidade de género”, puramente ideológico e absolutamente subjectivo, neste cantinho à beira-mar plantado, o Ministério da Educação, braço armado do socialismo, prossegue na senda de destruir a identidade das crianças, de as recriar à imagem e semelhança de ideólogos perversos, travestidos de boas intenções, e de as tornar súbditas da bandeira colorida, usando, entre outros, o site de Educação para a Cidadania[2] para incentivar crianças a “mudar de sexo”.

Se o leitor se der ao trabalho de entrar no site, clicar no domínio “Sexualidade”, na rubrica “desenvolvimento da sexualidade”, na sugestão “aceder a mais recursos”, nos vídeos sobre Identidade e Género (criados e apresentados por dois transsexuais), encontrará este[3], onde, teatralmente e com muitas risadas pelo meio, se diz isto: «Tu não dás valor nenhum ao teu corpo? Andam aí mulheres com cancro,  que têm de tirar os peitos, e tu vens-me com essa conversa? Tu levas já com um chinelo nesse rabo, queres ver? Já não há respeito pelas mulheres, porra, pá. Pois é, há mulheres, com cancro, que têm de tirar os peitos e sofrem imenso com isso, mas, lá está, são mulheres, nós não. Nós, não só não gostamos, como nos impede completamente de ter uma vida normal e comum e de fazermos tarefas do dia-a-dia, porque nós não nos identificamos como mulheres. E mesmo que nos identificássemos como mulheres, as mulheres não têm que ter mamas, porra. It’s ok se uma mulher não quiser ter peito. Se é ok uma mulher querer aumentar o peito, porque é que não é ok uma mulher querer tirar o peito, porque não é um objecto sexual?»

Nesta série de artigos, sobre os danos causados pelos tratamentos de “mudança de sexo” em crianças, já escrevi sobre os danos causados pelos bloqueadores da puberdade[4], pelas hormonas do outro sexo[5] (cujos danos são ridicularizados diante do público infanto-juvenil pelos dois activistas trans de serviço no site de Educação para a Cidadania: «Então tu não sabes que as hormonas são perigosas? As hormonas são muito perigosas, elas vão durante a noite, assaltam-vos a vossa casa, vendem tudo o que vocês têm lá dentro») e, hoje, escrevo sobre a “cirúrgia superior”, ou dupla mastectomia (amputação das duas mamas).

Abigail Shrier, no seu livro Irreversible Damage [Dano Irreversível], dá-nos conta de um vídeo, «infame para os pais de adolescentes que se identificam como trans», cuja protagonista é uma das pediatras especializadas em género mais proeminentes dos Estado Unidos, a doutora Johanna Olson-Kennedy, uma das mais conhecidas defensoras da transição médica precoce em crianças e adolescentes, Directora médica do Centro para a Saúde e o Desenvolvimento dos Jovens Trans do Hospital Infantil de Los Angeles, a maior clínica do seu tipo no país.

No vídeo, filmado por uma câmera escondida no bolso de uma mãe […] expressa-se de forma divertida e tranquilizadora. As palavras que dirige àquela mãe são repugnantes: «O que sabemos é que os adolescentes têm a capacidade de tomar uma decisão informada e lógica. E outra coisa, sobre a dupla mastectomia, se mais tarde desejares voltar a ter mamas, é só colocá-las».

É uma declaração impactante, do tipo que os pais destas meninas partilham uns com os outros para provar qual é o tipo de ideologia monstruosa que enfrentam. Na hora de recomendar a uma criança uma dupla mastectomia, o médicos não deveriam poder ser tão frívolos. Alguém que recomenda uma dupla mastectomia a uma menina de apenas 13 anos (na Califórnia é permitido) – como faz a Drª Olson-Kennedy – leva a sua responsabilidade muito a sério, certo? Será que não reconhecem a perda imensa que a criança vai sofrer, ainda que a recomendem?

«Mas», perguntará o leitor, «os avanços da medicina estética não permitem pôr os peitos, tirá-los e voltar a colocá-los?»

Segundo o cirurgião plástico Patrick Lappert, a resposta é um rotundo não. Ele assegura: «Posso reverter a masculinização do nariz, posso reverter a masculinização da mandíbula, […] mas não posso reverter uma mastectomia. A única coisa que posso fazer é formar um novo montículo no lugar da mama, mas não será uma mama. Será um caroço no peito que se parecerá com um seio.»

O problema é que a mama não é apenas um pedaço de tecido adiposo.  As mamas são constituídas por vários tipos de tecido, entre eles gordura (tecido adiposo) e tecido fibroglandular (onde há as estruturas que produzem o leite materno). Os lóbulos são conectados ao mamilo por uma rede de tubos denominados dutos de leite, e o mamilo também serve como zona erógena que excita o cérebro.   

Os médicos sabem qual é a diferença entre um órgão são, com capacidades biológicas –  neste caso, a sensação erótica e a produção de leite – e um pedaço de carne que se assemelha a esse órgão. Um leigo na matéria pode não ter esse conhecimento, mas, segundo o Dr. Lappert, eliminar as capacidades biológicas de um órgão saudável, substituindo-as por algo meramente estético, é mau, e, em quase todas a áreas da medicina, é expressamente proibido. Ele exemplifica:

«Destruir por completo uma capacidade natural é como tirar os olhos a uma pessoa que deseja ter olhos azuis e pôr-lhe uns olhos de cristal de cor azul. Ela terá os olhos azuis, mas não funcionarão. Ela foi privada da capacidade de ver. Trata-se de um exemplo extremo, mas instrutivo, porque estamos a falar de uma mudança cosmética.»

Ele defende que a cirurgia estética tem limites éticos e profissionais, e acrescenta: «Não há nenhuma outra operação cosmética na qual se considere minimamente aceitável destruir uma função humana. Não há nenhuma operação cosmética na qual eu possa propor: «vamos melhorar o nariz, mas vai deixar de sentir cheiro»; ou «vou melhorar os aspecto das orelhas deste rapaz, mas ele vai ficar surdo; sem perder a licença para continuar a exercer. Mas, no caso de uma adolescente, renunciar à capacidade de amamentar – para parecer um rapaz – é algo que é considerado moralmente correcto.»

Infelizmente, há cada vez mais profissionais de saúde a ceder ao lóbi e à pressão dos activistas trans e a praticar mutilação genital infantil no Ocidente. Amputar os seios a meninas adolescentes, que se identificam como rapazes, é um procedimento cada vez mais habitual.

O Dr. Hugh McLean, um proeminente cirurgião de Toronto especializado em cirurgia superior, faz mastectomias masculinizantes em mulheres biológicas desde 1999. Segundo ele: «O mais gratificante é ver todos esses sorrisos. Trata-se de um grupo de pacientes tão ansiosos por fazer a operação […] é satisfatório ver a sua felicidade e bem-estar.» Na sua conta do Instagram[6] apresenta uma fotografia do seu sócio com o gorro de Pai Natal segurando nas mãos dois recipientes brancos, com as etiquetas «tecido mamário», supostamente recém extraído às suas pacientes. Macabro!  

Segundo os defensores da cirurgia superior, a dupla mastectomia é o único meio eficaz para curar a disforia de uma paciente, mas, como as duplas mastectomias em adolescentes têm muito mais que ver com a ideologia da moda do que com um transtorno real da sexualidade (disforia de género ou incongruência de género, como preferirem), há cirurgiões a fazer duplas mastectomias a adolescentes que se identificam apenas como não-binários, sem exigirem nenhum acompanhamento por parte de um psicoterapeuta. Na página Web do Dr. McLean pode ler-se: «Para nós, quem faz o diagnóstico é o paciente, não o médico, da mesma maneira que uma paciente que procura um aumento dos seios diagnostica que os seus peitos são demasiado pequenos».

Quem se importa que haja cada vez mais mulheres (e homens) a reconhecer que diagnosticaram mal a sua própria disforia de género e a arrepender-se de todos os tratamentos que fizeram?[7]   

Ao contrário daquilo que os influencers trans incutem na mente dos mais novos, há danos irreversíveis para as pessoas que se submetem a duplas mastectomias: sacrifica-se a sensibilidade dos mamilos, ainda que coloque mamilos reconstruídos no lugar desejado, ou conserva-se a sensibilidade e a aparência dos mamilos, mas não são colocados no lugar correcto; os dois procedimentos deixam cicatrizes enormes debaixo do lugar onde deveriam estar os seios, o que, para muitas raparigas, é uma espécie de estigma que indica aos outros que podes parecer um homem, mas que não nasceste homem.

A intervenção implica ainda: risco de infecção, seroma (o acúmulo de líquido debaixo da pele, que surge no local de uma cirurgia, próximo à cicatriz cirúrgica), dor, hemorragia, supuração (processo de formação de pus, numa reacção inflamatória e ou infecciosa), retalhos de pele e mamilos que parecem carne de hambúrguer cozida.

Em algumas adolescentes, a dupla mastectomia parece aliviar a disforia de género, pelo menos a curto prazo. Mas, quando o arrependimento chega, não há cirurgia plástica que traga de volta a funcionalidade dos seios e, é cada vez mais difícil esconder que há uma quantidade crescente de adultos, que fizeram a transição na adolescência, a optar pela destransição[8]. Infelizmente, nunca conseguirão voltar ao ponto de partida.

Termino com mais uma notícia de arrependimento, que saiu esta semana na comunicação social. A espanhola Susana Domínguez, 24 anos, que se tornou Sebastião aos 15 anos, e que, agora, diz que teve mau acompanhamento psicológico e psiquiátrico e assevera que os médicos e os hospitais públicos que a operaram lhe “arruinaram a vida”. Susana precisou de seis anos para perceber que talvez os seus problemas mentais, que incluíam depressão e transtorno de personalidade esquizoide, a tivessem impedido de tomar a decisão certa.[9]

Quantas vítimas serão precisas para colocar um travão na ideologia do género?

E nós? Vamos continuar a deixar-nos amordaçar pelo activismo trans e pelas políticas estatais e a permitir, silenciosa e covardemente, que o socialismo continue a legislar no sentido de transformar e mutilar genitalmente as crianças cada vez mais cedo? Em Espanha já é possível “mudar de sexo” aos 12 anos[10]. Vamos continuar em silêncio, enquanto se privam as crianças de cuidados de saúde imprescindíveis para um dia, como adultos, tomarem uma decisão informada? Vamos acreditar nas novas histórias da carochinha, que insistem na mentira de que um homem pode ser de facto uma mulher e vice-versa e que há quem nasça no corpo errado?  A quem interessam os tratamentos vitalícios e as cirurgias de redesignação sexual? Quem é que ganha com a ideologia do género?

O futuro da nossa Nação são as crianças. Vamos permitir que continuem a ser ratos de laboratório de uma experiência social que já apresenta resultados tão trágicos?

A autora rejeita o AO90, escrevendo em português correcto.


[1] https://sol.sapo.pt/artigo/790269/suecia-abandona-tratamentos-baseados-em-ideologia-de-genero-falta-evid-ncia-cientifica-confiavel

[2] https://cidadania.dge.mec.pt/

[3] https://www.youtube.com/watch?v=s5RbnxynVeQ a partir dos 5:29.

[4] https://sol.sapo.pt/artigo/791538/os-danos-irreversiveis-da-ideologia-trans-1-

[5] https://sol.sapo.pt/artigo/792571/os-danos-irreversiveis-da-ideologia-trans-2-

[6] https://www.instagram.com/explore/locations/410306946/dr-hugh-mclean-plastic-surgeon-mississauga-toronto-ontario/

[7] https://multinews.sapo.pt/noticias/arruinaram-me-a-vida-e-horrivel-susana-e-a-primeira-trans-espanhola-arrependida-e-reclama-ter-sido-operada-sem-supervisao-psiquiatrica/

[8] https://sexchangeregret.com/increasing-amount-of-adults-who-transitioned-as-teens-choosing-to-detransition-study/

[9] https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2220875/trans-espanhola-esta-arrependida-da-operacao-arruinaram-me-a-vida

[10] https://www.nit.pt/fit/saude/espanha-aprova-mudanca-de-sexo-em-menores-partir-dos-12-anos