O que é a “cidadania global”?

Bem, “cidadania” é um conceito político-jurídico que está directamente ligado com a nossa lealdade ao um Estado-Nação. Isso quer dizer que eu sou cidadã na medida em que tenho direitos políticos num Estado-Nação, porque eu sou portuguesa e sobretudo porque eu voto em Portugal.

Agora, de acordo com o que nos vai sendo dito, existe uma tal de “cidadania global”. Mas, para existir algo assim, teria de existir uma autoridade global, um Estado global, que é precisamente o que está a ser gerado.

Agora, e antecipando um futuro governo único, a agenda 20/30 avança com as directrizes para educar as crianças no sentido de não serem fiéis às suas pátrias, mas sim a uma suposta cidadania global. Então, há uma agenda global e não é casualidade que temas como, aborto e ideologia do género, e terminologias como, igualdade, diversidade, inclusão, bem como a vitimização das mulheres, por parte do feminismo, dos pretos, por parte do SOS racismo/Black Lives Matter, surjam ao mesmo tempo em todos os países. Há um interesse demográfico em tudo isso.

Quando falamos de demografia, estamos a falar da composição humana de uma sociedade e, dentro desses interesses demográficos, está a natalidade, a reprodução de um povo.

Ora, desde há muitos anos a esta parte, um grupo de homens muito poderosos decidiu que estávamos a ter mais filhos do que os que devíamos ter e que, para controlar o crescimento da natalidade, era necessário acabar com a vida antes do seu nascimento, ou seja, assassinar um ser humano na primeira fase do seu desenvolvimento: a gestação. E a natalidade baixou drasticamente. Em Portugal, o aborto foi aprovado em 2007. Antes, e uma vez que o aborto era proibido, não há registos fidedignos do número de abortos realizados. Mas, de 2008 a 2021, 238 301[1] bebés foram mortos no ventre das suas progenitoras. Hoje, em Portugal, há mais óbitos do que nascimentos[2]. O Inverno demográfico é preocupante.

E, para que a sociedade aceite o maior genocídio da História, e o defenda como um “direito da mulher”, não lhe pode chamar “assassinato”. A batalha cultural entra em campo com a sua guerra linguística. Na nossa cultura judaico-cristã (e em quase todas as culturas não-cristãs) sustentamos que assassinar uma vida inocente é um acto de pura maldade. Hoje, se fizermos um inquérito e perguntarmos às pessoas se acreditam que assassinar uma vida inocente é algo bem ou é algo mau, creio que 100% responderia que é algo muito mau. Por isso, os ideólogos do aborto perceberam que só tinham dois caminhos:

Primeiro, mudar esse princípio moral  segundo o qual matar um ser humano inocente é um acto de maldade, algo que requer um esforço enorme, pois será muito difícil mudar a mentalidade da população.

Segundo, mudar a forma como se define o aborto. Abortar não é assassinar um ser humano em fase de gestação, e, portanto, inocente, mas sim a interrupção da gravidez. Isso inviabiliza o que realmente acontece num aborto, que é matar um ser humano em gestação, apontando apenas para a questão da gravidez. Então, o que é o aborto? É a interrupção voluntária da gravidez. Assim, não se gera o dilema moral, porque se uma mulher que está grávida fizer um aborto e na sua sociedade se entender que o aborto é o assassinato de um ser humano em gestação, essa mulher terá, no mínimo, um problema de consciência moral, que é o de saber que está a matar o próprio filho. Mas, se já lhe foi incutido que no seu útero não há um filho, porque o aborto é apenas a interrupção voluntária da gravidez, esse dilema moral esvai-se, essa mulher vai fazer um aborto e os legisladores vão poder votar a favor do aborto sem que haja grande contestação moral.

Isso foi feito de forma brilhante, e os promotores do aborto decidiram ir mais longe e transformar o assassinato de um ser humano, em fase de gestação, num “direito da mulher a dispor do seu próprio corpo”, quando, na verdade, ela está a matar o seu filho, que não é o seu corpo, mas sim outro corpo com outro ADN. Há uma grande armadilha linguística por todo o lado, pois, “dispor do seu corpo” seria, por exemplo, pintar o cabelo da cor que quiser, usar a roupa que que muito bem entender, fazer tatuagens, usar saltos altos ou rasos, usar botox, fazer cirurgias plásticas … Isso, é “dispor do corpo” e cada uma é livre para fazer o que quiser.

Mas, quando falamos de uma mulher grávida, estamos a falar de uma mulher que já é mãe, que já tem um filho. Ou seja, ao escolher abortar essa mulher não decide se quer ser mãe, ou não, ela já é mãe. Então, ao abortar, a mulher só decide ser mãe de um filho morto, em vez de ser mãe de um filho vivo. É isso que o aborto faz. Mata o bebé. 

E isto não tem nada a ver com religião, com a fé de cada um. É a ciência moderna que nos diz que no momento da fecundação, geneticamente, aparece um ser humano único, um novo indivíduo da raça humana cujos cromossomas já têm todo um código de um ser humano. Ele não vai tornar-se um ser humano, ele já é um ser humano e o seu código genético já está contido na cor da pele, dos olhos, do cabelo, da sua estatura, do seu sexo. Ele já existe, não como um ser humano em potência (caso sobreviva à gestação), mas sim como um ser humano com potencial. Dizer que esse ser humano é “parte da mulher”, “o corpo da mulher”, é uma mentira absoluta. Apesar de necessitar do ventre da mulher para se desenvolver, ainda que, como é evidente, não seja autónomo, isso não o torna menos humano. A nossa humanidade não pode ser definida pela nossa autonomia, pois, se assim for, um bebé recém-nascido também não é autónomo e não é menos humano por isso. Ou é?

O problema é que os defensores do aborto não querem debater, mas sim impor e, para isso, precisam convencer a população de que há algo bom no acto em si – ajudar a mulher, coitadinha – e isso é mentira. A mulher só decide algo bom quando decide ser mãe e não assassinar o seu filho. E, sim, o tema é delicado, mas não devia haver dúvidas de que o aborto é assassinato, pois é acabar com outra vida. O bebé, na sua fase de crescimento dentro do útero materno, é OUTRA pessoa.


[1] https://www.pordata.pt/portugal/abortos+interrupcoes+voluntarias+da+gravidez+nos+estabelecimentos+de+saude-1511 consultado no dia 17-02-2023

[2] https://www.pordata.pt/publicacoes/infografias/declinio+da+natalidade-286 consultado no dia 17-02-2023