O mito do suicídio trans e a política de chantagem

“As taxas de suicídio atingem números tão altos como 40% na juventude transgénero”, testemunhou a Dra. Simrun Bal, da Dartmouth Health, na Câmara Estadual de New Hampshire. “Imaginem que se houver 100 pessoas nesta sala, 40 de nós teriam tentado o suicídio”.

Talvez devido às credenciais de Bal – ela representava a Sociedade Médica de New Hampshire e a secção de NH do American College of Physicians – ninguém na Comissão de Serviços Humanos e Assuntos dos Idosos da Câmara de NH questionou essa estatística ou perguntou por que razão ela estava a confundir as taxas de suicídio com as tentativas de suicídio.

O testemunho público contra a HB 619, que proibiria a transição médica de menores, continuou nesta linha durante a audiência de 7 de março, com a ameaça de suicídio a repetir-se pelo menos de cinco em cinco minutos.

Tal como os terapeutas perguntam: “Quer uma criança transgénero ou uma criança morta?”, os activistas afirmam que estas leis negam às crianças cuidados que lhes salvam a vida, uma afirmação que apoiam com números astronómicos de suicídios. É uma história convincente, mas será verdade?

De facto, as taxas de suicídio entre jovens que se identificam como trans são extremamente raras. Uma análise dos dados da maior clínica de género do Reino Unido, Tavistock, indicou uma taxa de suicídio de 0,03%.  Quatro dos 15.032 pacientes cometeram suicídio, dois que estavam à espera de tratamento e dois que estavam a receber tratamento.

Embora esta taxa seja superior à taxa média de suicídio de jovens, é semelhante às taxas de suicídio daqueles com outros problemas de saúde mental, que a maioria dos jovens transidentificados também tem, e inferior às taxas de suicídio para autismo e anorexia.

Um outro estudo com quase 2800 crianças concluiu que o suicídio entre os jovens que se identificam como trans é apenas ligeiramente superior do que para aqueles que estão a ser tratados para outros problemas de saúde mental.

Numa entrevista no mês passado, a Dra. Riittakerttu Kaltiala, a maior especialista finlandesa em medicina pediátrica do género, afirmou:

“Não se justifica dizer aos pais de jovens que sofrem de transgenderismo que o jovem corre o risco de suicídio sem tratamento correctivo, e que o perigo pode ser combatido com tratamento de mudança de sexo. Trata-se de desinformação propositada, cuja difusão é irresponsável.”

Kaltiala atribuiu o pensamento suicida em jovens que se identificam como transgénero a perturbações psiquiátricas concomitantes. Também citou 12 estudos que demonstram que, se permitirmos que as crianças passem pela puberdade natural, 4 em cada 5 ultrapassarão a sua disforia. O estudo mais recente e de maior dimensão demonstrou que a disforia de género desapareceu em 87,8% dos indivíduos quando atingiram a idade adulta.

Porquê as diferenças entre as afirmações e recomendações dos activistas norte-americanos e as políticas de saúde da Noruega, Suécia, Inglaterra e Finlândia, países que abandonaram o modelo de afirmação do género como perigoso e ineficaz, e da Itália e França, que levantaram sérias preocupações sobre os perigos dos bloqueadores da puberdade e das hormonas?

As estatísticas de suicídio da Dra. Bal provêm dos inquéritos do Projeto Trevor (NT: organização LGBT que providencia serviços de apoio a juventude LGBT), que são auto-relatos de jovens “recrutados através de anúncios direccionados nas redes sociais”, e não de um estudo aleatório ou de uma análise objetiva das taxas reais de suicídio.

Os auto-relatórios são notoriamente imprecisos. Por exemplo, de acordo com o Inquérito de Comportamento de Risco Juvenil de 2021 do Centro de Controlo de Doenças (CDC), 22% de todos os estudantes do ensino secundário consideraram seriamente tentar o suicídio, o dobro dos rapazes em comparação com as raparigas. Mas a taxa real de suicídio de jovens foi de 0,014%, de acordo com o CDC, e os homens tiveram uma taxa de suicídio quatro vezes maior do que as mulheres.

E se as taxas de suicídio são tão elevadas para os jovens que se identificam como trans e que não recebem cuidados de afirmação do género, por que razão não se registaram taxas de suicídio muito mais elevadas antes de estes cuidados estarem amplamente disponíveis? Leor Sapir, membro do Manhattan Institute, calculou que, dada a taxa de 41% de tentativas de suicídio do Projeto Trevor, a taxa total de suicídio de jovens há 10 anos deveria ter sido sete vezes superior.

Porque é que os activistas repetem estes números colossais de suicídios? Funciona. A ameaça de suicídio é a arma mais eficaz dos activistas do género, e eles treinam as crianças para a manejarem.

Numa manifestação realizada em fevereiro na Milford High School para protestar contra a proposta de manter os rapazes fora das casas de banho e dos balneários das raparigas, os activistas pediram às crianças que levantassem a mão se alguma vez tivessem tido pensamentos suicidas e que voltassem a mostrar se tinham sido ajudados por um tratamento médico de afirmação do género.

A ameaça de suicídio iminente é a única coisa que pode justificar as políticas de New Hampshire de mutilação e esterilização de crianças. Mas à medida que outros países reconhecem os perigos deste modelo e à medida que os escândalos médicos como os de Tavistock e do Centro Transgénero da Universidade de Washington em St. Louis continuam a aumentar, será que os nossos legisladores vão continuar a ser coagidos por este mito?

Como disse a jovem detransicionada Chloe Cole:

“Ouço constantemente chantagem emocional nestas audiências, “o sangue deles estará nas vossas mãos”. Os miúdos com disforia de género estão a ouvir. A ideia de que é trans ou suicídio vai prejudicar os jovens. As crianças não são mártires da vossa ideologia política”.

POR STEPHEN SCAER / 23 MARÇO 2023
Tradução: Maria Azevedo (associada)
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