Não, nem todas as famílias têm um “cadastro” imaculado, filhos com notas excelentes a todas as disciplinas e que são excelentes cidadãos. Não, nem todas as famílias têm o apoio de um excelente advogado ou podem pagar a um. Não, nem todas as famílias conseguem passar da tentativa de combater o Estado, que imediatamente ameaça retirar-lhes os filhos caso se atrevam a ter a leviandade de pensar que têm qualquer direito a rejeitar a endoutrinação ideológica do Estado. Não, nem todas as famílias têm acesso a pessoas conceituadíssimas da sociedade que saiam em sua defesa e escrevam artigos nos jornais.
Hoje, de Norte a Sul do país, há famílias a serem perseguidas e amordaçadas pela nova PIDE, que todos nós conhecemos pelo nome de CPCJ. E, desenganem-se, se há pessoas naquele organismo que agem pelas causas certas, há cada vez mais a serem usadas como braço do Estado para amedrontar e silenciar os pais.
Hoje, depois do Contra Corrente, voltei a acreditar que ainda há quem defenda as famílias e os seus direitos e, por isso, aqui estão três casos gravíssimos de abuso de poder, por parte da CPCJ, que ameaça famílias, que não são tão “perfeitas” como a do Artur, com a retirada dos filhos, caso não aceitem depositá-las nas mãos da Escola e demitir-se de os educar.
Confesso que já tentei que um órgão de comunicação social falasse sobre isto, mas o director recusou por “não serem famílias tão perfeitas como a família do Artur Mesquita Guimarães”.
- O primeiro caso aconteceu em Azurva, Aveiro, no dia 01-04-2019. Após uma palestra na qual alertei os pais presentes para o que estava a ser imposto às escolas [a ideologia de género], recebi a ficha de avaliação de uma menina de 5 anos, que frequentava a pré-primária em Azurva, numa escola pertencente ao Agrupamento de Escolas de Eixo. De acordo com a avaliação da educadora, e passo a citar: «a … tem dificuldade em RESPEITAR a igualdade de género, diz que os meninos não podem brincar com os mesmos brinquedos, porque têm os brinquedos deles. Diz que os meninos não devem usar roupa rosa e diz que o pai não tem roupa rosa, que o pai gosta mais ou menos de rosa, mas que só gosta de ver nela.».
De acordo com um renomado psiquiatra e sexólogo, que contactei, esta avaliação destrói a percepção da criança levando-a a não confiar no que percepciona ao seu redor [naquilo que os seus olhos vêem].
Com a devida autorização dos pais, apaguei o nome, o número e a data de nascimento da criança (só deixei o ano para todos verem que tinha 5 anos) e publiquei a ficha nas redes sociais numa quinta-feira. A ficha viralizou e as reacções foram incríveis. Entre as inúmeras reacções de repúdio, houve também pais e professores a insinuar que a ficha era falsa, que aquilo não podia acontecer, etc.. Na sexta-feira, a Directora da pré-escola ligou para os pais, um casal de emigrantes brasileiros, marcou reunião para segunda-feira, e, no meio de muitos berros, ameaçou-os com a CPCJ e com o Ministério Público. Assustadíssimos, com medo de perder a única filha, os pais pediram-me para retirar a ficha da internet (algo que já não era possível, mas que retirei do meu mural e das páginas onde a havia publicado) e a queixa acabou por ser arquivada.
- O segundo caso é mais recente e acontece mais a Norte, em Braga. Uma família de imigrantes colocou a filha do meio, com 13 anos, na Escola (não cito o nome da Escola, pois o processo está a decorrer). Passado algum tempo, a menina começou a mudar o seu comportamento e a desafiar os pais. Num dia em que não houve aulas, não disse nada aos pais – que a haviam deixado na escola – e desapareceu o dia inteiro. Quando se aperceberam do seu desaparecimento, e depois de a procurarem por todo o lado sem a encontrar, os pais chamaram a PSP. Resultado: a família foi sinalizada na CPCJ. Sem saber disso, a mãe procurou a directora e pediu-lhe ajuda no sentido de arranjar um ATL onde deixar a filha quando fosse trabalhar, pois tinha receio de a voltar a deixar sozinha depois do que acontecera. A directora aconselhou-lhe a Projecto BeEqual, uma Associação LGBTQIA+, onde a menina passou a ficar nos tempos livres. Um dia, ao aparecer de surpresa na escola, a mãe deparou-se com a filha vestida como um rapaz e a agir como se fosse um. O choque foi enorme, pois a a menina nunca dera qualquer sinal de não gostar de ser menina e era até muito feminina. Foi neste ponto que a mãe me procurou. Quando conversei com a “Maria” (nome fictício), ela confidenciou-me que foi a única maneira que encontrou para se proteger do bullying, pois as pessoas LGBT tinham protecção especial e ela percebera isso nas aulas de cidadania, e a Associação, que a directora lhe aconselhara para os tempos livres, garantia isso mesmo.
Resultado: os pais decidiram mudá-la de escola, porque ela disse que não poderia voltar à escola como menina, pois todos a gozariam a fariam bullying com ela. A mãe deixou de trabalhar tantas horas para ficar mais tempo com a filha, ela começou a mudar o comportamento e pediu para não ir ao último dia de aulas. A directora decidiu denunciar a família à CPCJ e a Drª da CPCJ só queria saber porque é que os pais não deixam a filha ter direito à sua auto-determinação de género.
- O terceiro caso passa-se próximo de Coimbra. Na semana passada, depois de rejeitar a intervenção da CPCJ, a família recebeu as cartas do Ministério Público.
A perseguição da CPCJ a esta família conta-se em poucas palavras: Esta mãe de três filhos é professora do secundário, conhece muito bem as pautas ideológicas do Ministério da Educação, e decidiu colocar os filhos, no caso o mais velho ainda é o único em idade escolar, em ensino doméstico. Mas, esta também não é uma família perfeita… O marido, há uns anos, perdeu o emprego e começou a beber além da conta. Um dia, embriagado, no meio de uma discussão, empurrou-a e saiu porta fora. Assustada, ela fez queixa dele e a família foi sinalizada. Dias mais tarde, ela acabou por retirar a queixa, pois foi um episódio isolado, o marido pediu perdão e deixou de beber estando sóbrio desde então.
A CPCJ ficou sem nada até os vizinhos fazerem uma denúncia anónima na qual acusaram a família de não levar as crianças à escola. E, como nem todas as famílias têm filhos com tão boas notas como a família do Artur, e o rapaz de 8 anos tem dislexia, ficou retido um ano por falta de aproveitamento. Só aqui, já há dois pesos e duas medidas por parte do ME. Se a criança estivesse na escola pública, passava, mas como está em ensino doméstico, chumba. Assim, e contra a decisão da directora da Escola, que deu a autorização necessária à mãe para continuar a fazer ensino doméstico, a CPCJ decidiu OBRIGAR esta família a colocar o menino na escola pública e a do meio (que tem 4 anos) no infantário. A mãe, que decidiu abrir mão da sua carreira profissional para educar os filhos, recusa-se a fazer isso e está sob ameaça de perder os filhos.
Quem protege estas famílias? Quem lhes dá voz? Quem se dispõe a ajudá-las?
Ontem, dia 10, a Joana Marques dedicou-me o seu programa[1] e usou partes de vídeos meus para me ridicularizar e afirmar que eu minto nesses vídeos e me baseio em coisas que se passam no Brasil… Entre outros, ela citou este caso, que eu denunciei no dia 1 ou 2-02-2019:
A Escola Raul Lino, no Estoril, levou crianças de 8/9 anos a ver um bailado, no CCB , no qual os bailarinos simulavam actos sexuais: homens com homens, mulheres com mulheres, homens com mulheres, tudo ao molho e, no fim da peça, contado por um dos alunos, um menino de 8 anos, os bailarinos, aos pares, deram beijos de língua.
Não. Não foi só a mim que a Joana acusou de mentir. Ela acusou todos os pais que vão tendo coragem de denunciar estas situações de mentir. Ela acusou a avó deste menino de mentir. Hoje, enviei-lhe o contacto da avó e dispus-me a dar-lhe os contactos dos outros pais que ela acusou de mentirem. Aguardo que me responda e que os contacte, mas não acredito que tenha honestidade intelectual para fazer um pedido público de desculpas.
Não. Nem todas as famílias são a família do Artur, mas é preciso defender as famílias não tão “perfeitas” desta perseguição feroz por parte de entidades que deviam proteger a família e não destruí-la. Se uma mãe vítima de violência doméstica fica sem os seus filhos quando denuncia as agressões… Quantas mães continuarão a denunciar os agressores?
Não faltam casos de mães que viram os seus filhos ser-lhes arrancados pela CPCJ por motivos fúteis e até por serem vítimas de violência doméstica [2] [3] [4]
A luta destas famílias não pode ser esquecida só porque não são famílias perfeitas. O Estado não é dono dos nossos filhos e nem todas as famílias abriram mão do seu direito a educá-los.
[1] https://www.facebook.com/renascenca/videos/4237836143010218
[2] https://observador.pt/opiniao/leonor-uma-menina-retirada-a-mae/
[3] https://observador.pt/2016/02/16/estado-portugues-condenado-pagar-15-mil-euros-mae-tirados-sete-filhos/
[4] https://expresso.pt/sociedade/2021-07-14-Tribunal-Europeu-volta-a-condenar-Estado-portugues-por-retirar-criancas-a-uma-mae-1d6deecc