A proposta que vai a debate no Parlamento sobre Ensino Doméstico na próxima quarta-feira enfraquece os princípios de liberdade e retira-os a quem não se encontra em incumprimento.
Sei que a primeira questão que surge, inevitavelmente, é a questão da sociabilização.
Como é que a criança se vai desenvolver e ganhar competências sociais se não está com outras crianças, os seus pares?
Pode haver diversas respostas a esta pergunta, sendo sempre e antes de mais necessário explicar que outros formatos de ensino possibilitam uma gestão de tempo que permite, até, que estas crianças estejam expostas a realidades mais diversas no seu dia-a-dia do que apenas com os seus pares.
A começar com a convivência regular com o adulto que se assume como responsável educativo (pai, mãe ou professor contratado – no caso do Ensino Individual), passando eventualmente pelos irmãos (nesta casa são quatro) e pela vida do dia-a-dia tal qual ela é, e na qual existe tempo para circular fora de portões o dia todo. Seria interessante assistir, houvesse uma câmara para estas realidades, à autonomia conquistada nas lides diárias – entre um estudo sentado numa cadeira e um intervalo, saber fazer compras, escolher fruta, cozinhar, apanhar transportes, resolver assuntos. Quando uma família em Ensino Doméstico opta por esta modalidade educativa, não é num principio de fuga – é muito importante acabar com o preconceito do isolamento, de crianças trancadas entre quatro paredes que serão adultos pouco treinados.
Pelo contrário, a família, por principio, fá-lo para lhes trazer mais realidade do mundo, de manhã à noite. O que vejo ao meu redor não me embaraça: crianças e adolescentes que sabem falar com um adulto, que ajudam a tomar conta de um bebé, que procuram na biblioteca os livros complementares à matéria que estão a estudar, que estendem a roupa, que apanham transportes para se encontrar com os amigos, que não têm medo de abraçar novos desafios.
A sociabilização faz-se de muitas formas e é importante abrir estas janelas e respirar fundo (em relação a este assunto, o artigo escrito aqui pela Inês Peceguina, é bastante pertinente do ponto de vista científico).
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