
Chloe – Não, na verdade ele não fez nada. Na verdade, eu estava bastante insatisfeita com ele. Tinha algumas coisas a acontecer em casa e na escola que ele nunca abordou. O quadro completo da minha saúde mental não foi de todo explorado ao longo da minha transição, e muito do que mencionei nem sequer sabia que era um problema até recentemente, depois de ter parado de fazer a transição e de ter idade suficiente para ser capaz de fazer uma introspeção suficientemente boa para perceber de onde vinha tudo isto. Mas isso nunca foi explorado pelos adultos que me colocaram neste caminho.
Dr. Jordan – Com que frequência ias ao teu terapeuta e o que é que realmente acontecia durante o chamado processo terapêutico?
Chloe – Estava a dizer que era talvez uma vez por semana ou uma vez de duas em duas semanas, é difícil lembrar-me, foi há tanto tempo. Mas lembro-me que as consultas não resultavam em nada. Dizia-lhe que me tinham tirado o telemóvel e que não tinha qualquer contacto com o mundo exterior, por exemplo. E ele dizia-me “oh, está bem, como é que estás a lidar com isso?” e eu dizia “não muito bem” e ele limitava-se a dizer “está bem” e não fazia nada em relação a isso, não me oferecia nada.
Eventualmente, eu diria que depois de talvez um mês ou assim, ele talvez tenha sido despedido ou transferido para outro sítio porque já não estava lá. Depois mandaram-me para outro terapeuta e, mais ou menos nessa altura, disse aos meus pais: “Não estou muito satisfeita, quero fazer uma transição médica, quero tomar hormonas”. Eles apresentaram resistência, estavam muito cautelosos, não sabiam porque é que eu estava a insistir tanto e queriam que eu esperasse um pouco porque, nessa altura, eu tinha apenas 13 anos, era muito nova para fazer uma coisa dessas. Eles continuaram assim. E recebi o meu diagnóstico de disforia de género e, durante uma das consultas, não me lembro exatamente quem foi, foi através de um terapeuta ou de uma enfermeira penso eu, alguém que estava envolvido na minha transição, disseram-lhes que esta era praticamente a única forma de tratar a disforia. Não houve consideração de nenhum outro tratamento alternativo.
O meu pai perguntou sobre as taxas de arrependimento e eles disseram, acho que nem sequer usaram a palavra detransição, disseram “oh, há menos de um a dois por cento de taxa de arrependimento” e também disseram aos meus pais que se não me deixassem avançar com isto correria o risco de suicídio.
Dr. Jordan – Quero desmontar tudo isso, porque cada uma dessas afirmações é uma mentira.
Em primeiro lugar, a Associação Americana de Psicologia e as suas directrizes para o tratamento de afirmação do género defendem que, devido a preconceito, não existem bons estudos de acompanhamento a longo prazo de indivíduos transgénero. E atribuem isso ao preconceito contra os indivíduos transgénero. O que não é a razão, aliás, a razão é que há uma taxa de base muito baixa, ou havia, de disforia transgénero, e os estudos de acompanhamento não foram feitos em grande parte porque o regime de tratamento cirúrgico e hormonal é relativamente novo.
Mas não existem bons estudos de acompanhamento a longo prazo e, de facto, eles queixam-se disso. E depois, algumas páginas mais tarde, no mesmo documento, dizem que é necessário afirmar uma identidade de género alternativa porque, caso contrário, o cliente ou o doente corre um risco acrescido de suicídio.
Portanto, antes de mais, ambas as coisas não podem ser verdadeiras. Não há forma das pessoas saberem que o risco de suicídio é elevado se a transição de género for adiada a menos que existam estudos a longo prazo, e eles já afirmaram que os malditos estudos a longo prazo não existem, por isso é tudo uma mentira. Mas é pior do que isso, é muito pior do que isso.
A disforia de género é uma variante do sofrimento que está associado às emoções negativas, à depressão e à ansiedade. Ora, a depressão e a ansiedade são os principais motores da ideação suicida, não a disforia de género em si. Por isso, estão a confundir a fonte.
Não há qualquer prova de que a transição do tipo médico tenha efetivamente um efeito salutar na saúde mental, em parte porque os estudos a longo prazo simplesmente não foram realizados. A ideia de que sabemos, de facto, a partir de uma perspetiva de investigação, que uma criança está muito mais segura se começar a fazer a transição do que se não a fizer, isso, mais uma vez, não é verdade. O trabalho de Ken Zucker mostrou muito claramente que, se deixarmos as crianças em paz, por volta dos 18 ou 19 anos a maior parte delas fixa-se nas suas identidades biológicas.
A razão pela qual estou a sublinhar isto é porque os teus pais, tal como muitos pais nesta situação, foram colocados numa posição muito, muito difícil. E eu diria que é corrupto ao ponto da malevolência o que os profissionais médicos estão a fazer nesta frente, e isso é a insistência “bem, preferem ter uma criança trans viva ou uma criança morta”. O que, penso eu, não há nada mais tóxico que se possa dizer a um pai ou mãe do que isso, porque isso deixa-os sem saída.
Porque as suas alternativas são, então, pode deixar o seu filho seguir em frente com este tratamento hormonal e cirúrgico que altera absolutamente a sua vida, ou o seu filho pode morrer e a culpa é sua porque não se preocupa o suficiente. Os pais estão habituados a confiar nos seus profissionais de saúde, pelo menos até certo ponto, e habituados a assumir que os conhecimentos que eles apresentam são válidos e fiáveis.
A informação que foi dada à tua família não era nada disso. De facto, é patológica, a um nível quase inimaginável. É criminoso, na minha opinião, o que vos foi dito porque simplesmente não há provas de que nada disso seja verdade. Não há provas de que as crianças que transicionam tenham menos probabilidades de se suicidarem, não há provas de que essa seja a única via de tratamento que funciona, e não há certamente provas de que não haja alternativa à transição ou ao suicídio. É tão patológico que nem consigo acreditar.
Mas não é de admirar que os teus pais tenham sido empurrados para um beco sem saída, porque é uma escolha terrível para um pai ou mãe ter de fazer.
Chloe – Sim, eles foram definitivamente coagidos a fazê-lo e, depois disso, ficaram obviamente mais abertos à ideia de eu ser medicada. Um especialista em questões de género decidiu encaminhar-me para um endocrinologista.
O primeiro que consultei foi, de facto, a única pessoa que realmente apresentou resistência a isto. Depois da consulta, ele disse “és muito jovem, tens 13 anos e isto pode ter implicações negativas no desenvolvimento do teu cérebro no futuro, por isso acho que é algo que deve esperar. Não te vou receitar isto”. Depois disso, fui encaminhada para outro endocrinologista que, após cerca de duas ou três consultas, me deu os formulários de consentimento para os bloqueadores. Comecei cerca de um mês depois disso e depois tive outra consulta para assinar os formulários para a testosterona e a minha mãe também teve de os assinar.
Isto foi em Browns, no final de 2017, início de 2018. Não sei se ainda é verdade que agora é necessário que os pais também assinem os formulários, no caso de menores, para as hormonas ou qualquer coisa do género, porque estão a tentar fazer com que as crianças sejam capazes de fazer essa escolha de forma independente.
Quando comecei, quando estava a ler esses impressos, eles enumeravam alguns efeitos secundários para qualquer um deles, mas eu era uma criança perfeitamente saudável antes de começar a fazer a transição, por isso era um pouco difícil determinar quais desses efeitos poderia sentir. Também mal era adolescente, os miúdos têm tendência a pensar que são invencíveis, que nada os pode afetar. Mas comecei a ter algumas complicações que me afectam até hoje.
Dr. Jordan – Então, três perguntas. O que estavas a experienciar socialmente nessa altura? Até que ponto deste a conhecer a tua transição e quais foram as consequências sociais? Como é que fantasiavas sobre a tua vida se conseguisses fazer a transição para rapaz, por assim dizer? Quais foram as consequências do tratamento hormonal?
Vamos passar por elas, uma a uma. O que é que te estava a acontecer na frente social nessa altura?
Continua
Traduzido por Maria Azevedo (Associada)
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