Jordan Peterson entrevista Chloe Cole, uma jovem detransicionada (14)

Dr. Jordan – Sim, os verdadeiros… Estou a ver, estou a ver.

Chloe – Cedi a esta pressão e deixei de falar sobre o assunto durante algum tempo, mas também me envolvi em comunidades on-line de pessoas que se arrependiam das suas transições e percebi que não era esse o caso, e que não me podia calar porque isto é algo que está a acontecer com mais frequência do que pensava.

Eu nem sequer sabia o que era realmente a detransição, até me ter acontecido. Sabia que devia haver muitas outras pessoas nesta situação, especialmente miúdos, que estão a ser pressionados pelos amigos para ficarem em silêncio sobre a sua dor.
Não é necessariamente que eu queira falar sobre o assunto, mas sinto-me chamada a fazê-lo. E foi assim que comecei este ano.

Dr. Jordan – E qual achas que é o cerne da tua alegação? Do que é que foste vítima? De, digamos, negligência médica e de aconselhamento? O que é que achas que foi feito de errado contigo?

Chloe – De facto, muita coisa. A coisa mais imediata que me ocorre é o facto dos formulários de consentimento não serem muito completos, serem muito vagos, não conterem informação suficiente. E eu também era demasiado jovem para compreender o significado de tudo isto.

Dr. Jordan – O consentimento tem de ser documentado, mas também tem de ser informado. E informado significa que temos de compreender aquilo a que estamos a consentir. Por isso, na minha perspectiva, especialmente quando se é muito jovem, por volta dos 12 anos, e se entra em terapia pela primeira vez, deveria ter havido uma investigação muito profunda sobre o teu passado.

Depois, deveria ter sido apresentada uma gama completa de opções e uma longa discussão sobre as consequências de todas essas opções. E os teus pais, após a discussão, deveriam ter estado contigo. Os teus pais deviam ter sido incluídos nessa discussão e deviam ter-lhes sido apresentadas as mesmas opções. E depois devia ter sido oferecida a todos, o que eu diria, a oportunidade ou a necessidade de passar um bom tempo a reflectir sobre o assunto, na base fundamental de que “não faremos nada precipitado até que seja necessário”, certo?

Isto remete para a ideia de que, se deixarmos, a maior parte das crianças com disforia de género, a maior parte delas identifica-se como homossexual, como já disse, eventualmente. Mas a maioria delas, a grande maioria delas, aceita o seu estatuto biológico.

Por isso, a questão do consentimento não se prende apenas com o facto dos formulários serem vagos e não detalharem toda a gama de consequências, mas também com o facto de ser necessário explicar detalhadamente todas as questões relevantes para ti, do ponto de vista psicológico e médico. Todas as opções disponíveis, bem como os prós e os contras de todas elas, e isso deveria ter sido algo que demorasse, penso eu, não consigo ver qualquer forma possível de ser feito, com qualquer grau de rigor, em menos de seis meses de terapia semanal. E eu diria que isso é o mínimo absoluto para acompanhar alguém em algo tão complicado como o que expuseste. Então, isso está no relatório, certo?

Chloe – Sim, eles apresentaram-no como a única opção, por isso, tanto eu como os meus pais… E também o problema de eu ter começado tão nova não foi só o facto de não poder consentir, mas também o facto de não conseguir compreender o quadro completo das coisas.

Também tive, e continuo a ter, uma grande variedade de complicações até hoje devido à cirurgia. Nunca poderei amamentar, nunca mais terei aquela sensação erógena no meu peito, nunca mais terei os meus seios de volta. A reconstrução não me vai ajudar em nada, e até pode piorar as coisas, porque este ano surgiram algumas complicações com os enxertos. Tenho de os tapar com pensos. Não sei o que se está a passar com eles. Tentei consultar a minha cirurgiã sobre o assunto e ela não investigou, deu-me conselhos que até pioraram as minhas complicações e até me provocaram temporariamente uma infeção. Tenho de fazer um penso todos os dias para que não se espalhe pela minha roupa ou pela roupa de cama.

Dr. Jordan — Jesus…

Continua

Traduzido por Maria Azevedo (Associada)
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