Dr. Jordan – Bem, isso é um bom sinal, deve ser um alívio, por assim dizer.
Chloe – Mas há muitos outros factores que contribuem para isso. Ainda não consegui fazer o teste e não tenho a certeza do que está para vir, mas tenho esperança.
Dr. Jordan – Certo, certo, certo. Muito bem, então quando é que deixaste de tomar testosterona e quando é que anunciaste isso aos teus pais? Bem, quando é que o disseste a ti própria e depois aos teus pais e a todas as outras pessoas à tua volta que sabiam?
Chloe – Acho que depois de terminar o meu primeiro ano, uma noite desatei a chorar e apercebi-me de que estava arrependida da minha transição. Telefonei a uma amiga e mandei uma mensagem à minha mãe, mas não podia telefonar-lhe nem falar com ela pessoalmente porque me sentia muito culpada, tinha muita vergonha. Não queria desiludi-la, nem ao meu pai, nem ao resto da família, depois de tantos anos a fazer isto. Eles investiram o seu tempo e o seu dinheiro nisto, o que tinha sido praticamente para nada, e eu odiava isso. Também era vergonhoso admitir que estava errada ao fim de tanto tempo, especialmente porque nessa altura já nem sequer parecia uma rapariga.
Dr. Jordan – É notável, de certa forma, o facto de teres voltado atrás na tua decisão. Parece-me estares a indicar que foi o facto de te teres apercebido de que querias ter filhos que constituiu o verdadeiro momento revelador da transformação. Foi?
Chloe – Foi sem dúvida um dos maiores catalisadores.
Dr. Jordan – E como é que achas que te apercebeste disso? Porque, na verdade, és muito nova para perceberes isso. Já vi, já conheci muitas mulheres que… há muitas mulheres da tua idade que estão absolutamente decididas e convencidas de que nunca vão ter filhos, que o único caminho válido para elas é o da carreira.
Mas digo-te, tenho 60 anos e trabalhei com mulheres em empresas dominadas por mulheres durante toda a minha vida, porque estou na profissão de psicólogo e, por isso, é dominada por mulheres. Praticamente todas as mulheres que conheci, quase sem excepções (e isto inclui mulheres extremamente bem-sucedidas na carreira), quando chegam aos 20 e muitos anos, o seu principal objetivo é ter um filho.
Por vezes, isso acontece com as mulheres mais tarde, também já vi isso, mas é extremamente raro uma mulher passar toda a sua vida jovem sem ser tomada pelo desejo de ter um filho. No teu caso é cedo e, de certa forma, é estranho porque lutaste tanto contra isso.
Por que raio achas que se manifestou como um desejo quando tinhas 16 anos? Achas que sabias que, de certa forma, estavas na linha da frente e que se continuasses a insistir nisto ias sacrificar a tua capacidade de ter filhos? Ou o que achas que produziu essa perceção?
Chloe – Acho que nessa altura já tinha baixado a guarda porque foi por volta da altura em que surgiu o Covid e havia todas as restrições. Basicamente, só estudava on-line, estava muito isolada do mundo exterior e isso causava-me muito stress. Mas também me permitiu ter muito mais tempo para estar sozinha e reflectir, o que abriu um pouco a minha mente.
Dr. Jordan – O que é que fantasiavas em relação à família quando olhavas para o futuro? Pensavas em ter… tinhas alguma ideia do número de filhos que querias ter? Tinhas alguma ideia sobre o casamento ou a estrutura familiar? O que é que se manifestava na tua fantasia?
Chloe – Quer dizer, quando comecei, era tão nova que ainda não estava a pensar nisso, mas à medida que os anos foram passando e comecei a pensar na idade adulta, no que queria fazer como adulta, esse pensamento começou a surgir um pouco mais na minha cabeça. Nunca tinha pensado muito nisso e, por isso, aprendi sobre psicologia infantil e sobre ter filhos. Penso que teria tido essa percepção naturalmente se soubesse mais sobre parentalidade e família.
Dr. Jordan – Sabes, quando eras criança, se brincavas com bonecas?
Chloe – Sim, brincava.
Dr. Jordan – Sim, está bem, então isso estava lá. Consegues lembrar-te se gostavas ou não? Sei que já lá vai muito tempo.
Chloe – Sim, gostava. De Barbies e Bratz.
Dr. Jordan – Está bem, então eram bonecas adolescentes. Tiveste algum boneco bebé?
Chloe – Que eu me lembre, não.
Continua
Traduzido por Maria Azevedo (Associada)
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