Permitam-me que me debruce por um minuto sobre os danos da experiência chamada “cuidados de afirmação do género”. Enquanto que há pessoas que estão satisfeitas, para algumas os danos são catastróficos. A lista de possíveis problemas médicos provocados pelos bloqueadores, pelas hormonas de sexo cruzado e pelas cirurgias é extensa. Não seria possível falar de todos eles nestes poucos minutos. Algumas áreas de preocupação: densidade óssea, ataques cardíacos, coágulos sanguíneos, acidentes vasculares cerebrais, menopausa precoce, disfunção sexual, infertilidade, efeitos no desenvolvimento do cérebro. E isto só devido a hormonas, nem sequer chegámos às cirurgias.
Agora, em relação às cirurgias: durante algum tempo, cheguei a pensar em mostrar-vos uma série de fotografias, há tantas disponíveis de raparigas de 14, 15 anos com cicatrizes de mastectomia recentes no peito.
Por isso, imaginei ter estes ecrãs grandes e mostrar-vos estas imagens horríveis, mas a sala não está preparada para isso, por isso considerem-se sortudos. São imagens que não esqueceriam facilmente.
Portanto, em vez disso, nada de imagens. Mas vou ler-vos as palavras angustiantes de uma mulher que viveu como homem durante oito anos, antes de regressar à sua identidade feminina.
É aquilo a que se chama uma pessoa detransicionada: fez a transição e depois decidiu que gostaria de voltar a viver como mulher. Estas são as pessoas que temos de ouvir e temos de aprender com as suas experiências, por isso vou ler-vos um testemunho editado no YouTube de uma mulher. O seu nome é Jaleesa e penso que está na casa dos 20 anos. Ela não menciona ter tomado bloqueadores, mas pela sua voz baixa é evidente que tomou testosterona.
Começou a transição médica aos 18 anos. Foi submetida a uma série de cirurgias ditas de afirmação do género: fez uma mastectomia bilateral, removeu o útero e os ovários, as paredes da vagina foram cosidas e o cirurgião pegou na pele e nos tecidos moles do seu antebraço e construiu um pénis e testículos falsos.
Após a cirurgia, ficou viciada em analgésicos. Agora, anos mais tarde, é isto que ela quer que o mundo saiba: «Como é que volto a amar-me? Como é que me sinto novamente ligada a mim própria? Não sei o que me aconteceu. E estou tão zangada, tão triste e não sei como é que isto aconteceu. Algo me infectou, um vírus ou assim, aconteceu tão depressa. Se eu tivesse apenas esperado», ela está a chorar, «se eu tivesse esperado e me tivesse deixado curar. Não posso ter filhos, tenho de aceitar os restos da vida que podia ter tido. Podia ter tido uma vida plena, para a qual agora tenho de fazer o luto. Eu era jovem, estava triste, era impressionável e pensei que isto iria resolver tudo. É tão mau, é tão mau, é algo com que vou ter de viver. Não há como consertar, não há como melhorar, não vejo um caminho, uma maneira de seguir em frente. O meu corpo parece tão estranho que é difícil olhar para ele e aceitar que é meu. Como mulher que pensava ser trans, fui até ao fim, até onde se pode ir, e depois acordei e apercebi-me de que tinha cometido o maior erro da minha vida. Houve uma razão para ter demorado tanto tempo a fazer a detransição, foi para evitar o inevitável, todo este luto, esta dor, esta perda, estes destroços com que agora tenho de me sentar e perceber. Estou sempre a perguntar-me como é que isto me aconteceu».
Esta mulher é uma vítima da experiência médica chamada “cuidados de afirmação do género”. O seu sofrimento era 100% evitável e ela diz «se eu tivesse esperado, se eu tivesse esperado e me tivesse deixado curar». Sim, sim, exactamente! Esse é o tratamento adequado, esperar e curar. Se acham que a história dela é invulgar, sugiro que vão ao Twitter com o hashtag d-trans, muitos outros hashtags, e vão ao Reddit para d-trans.
Há lá 38 000 pessoas. 38 000 pessoas a contar as suas histórias.
Como médica, já vi perdas e sofrimentos catastróficos devido a doenças como o cancro e a esquizofrenia, e posso viver com isso.
A ideologia de género também leva a um sofrimento catastrófico, mas é criada pelo homem: ensinar as crianças a negar a biologia é criado pelo homem, dizer-lhes que podem escolher se são raparigas ou rapazes, ou ambos, ou nenhum deles, porque lhes pode ter sido atribuída incorrectamente uma identidade à nascença é uma ideia criada pelo homem, disponibilizar hormonas e cirurgias perigosas sem uma avaliação e tratamento adequados de saúde mental, transformar isto numa questão de direitos civis, silenciar e intimidar os detransicionados e médicos como eu que acreditam que os nossos pacientes melhorarão através da espera e da cura. Essa abordagem é agora considerada sem ética. Tudo isto é criado pelo homem, não o posso aceitar e vocês também não deviam.
Tradução: Maria Azevedo (Associada)
Miriam Grossman | Ideologia de género e a experiência médica nas nossas crianças | National Conservatism em Miami