Ainda não há muito tempo, os pais que eu atendia no meu consultório estavam preocupados com a cultura de engate e de amigos com benefícios, receavam que as suas filhas adolescentes pudessem engravidar ou ser infectadas com herpes. Esses eram os bons velhos tempos.
Algumas das minhas pacientes usam ligaduras elásticas apertadas para achatar os seus seios em desenvolvimento, passam o dia com dores, sentindo-se tontas e com falta de ar. Muitos dos meus pacientes masculinos depilam o peito, os braços e as pernas para apagar os sinais de masculinidade. Perdoem-me por ser gráfica: um doente de 15 anos prende o pénis entre as pernas e empurra os testículos para os canais inguinais. Ele faz isto para criar uma virilha feminina lisa.
Os meus doentes têm disforia de género. Estão dissociados dos seus corpos, têm traumas, depressão, ansiedade, autismo, distúrbios alimentares e outros problemas de saúde mental. O seu sofrimento é intenso e estão convencidos de que o alívio só virá com injecções de testosterona, adesivos de estrogénio e o bisturi de um cirurgião.
A preocupação e a angústia dos seus pais não podem ser descritas.
Pediram-me que falasse hoje sobre a forma como a ideologia de género é uma experiência médica feita nos nossos filhos. Para ser mais precisa, a verdadeira experiência são os cuidados de afirmação do género que a Associação Americana de Psiquiatria e os nossos Serviços de Saúde e Humanos me dizem que devo prestar. Trata-se de uma experiência porque, em vez de psicoterapia que explora lenta e gentilmente as dificuldades de uma criança e lhe proporciona uma cura emocional, apela à interferência no desenvolvimento normal seguida de uma alteração permanente e drástica do seu corpo saudável.
Significa colocar a criança no lugar do condutor, por mais jovem ou problemática que seja, permitindo-lhe escolher o seu nome, os seus pronomes, a sua roupa e a sua casa de banho. A isto chama-se transição social. Do mesmo modo, as decisões de bloquear a puberdade, de tomar hormonas sexuais cruzadas e de se submeter a cirurgias baseiam-se nos desejos da criança ou do adolescente.
Isto não é praticar medicina, é atestar automaticamente o auto-diagnóstico de uma criança. Os cuidados de afirmação do género baseiam-se em dois pressupostos: primeiro, no que diz respeito ao género, as crianças e os adolescentes sabem melhor quem são e do que precisam; e segundo, que é possível nascer no corpo errado.
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Tradução: Maria Azevedo (Associada)
Miriam Grossman | Ideologia de género e a experiência médica nas nossas crianças | National Conservatism em Miami