Família, Igreja e Pátria

Há certos interesses que não correspondem aos de uma Pátria, aos de uma Nação, mas sim a um projecto de poder muito mais ambicioso. Ora, esses interesses há muito perceberam que há instituições, tradições e crenças muito inconvenientes para os seus planos. Destaco três:

A FAMÍLIA é um estorvo para qualquer projecto de poder totalitário, porque a família funciona como um tampão que se interpõe entre o indivíduo atomizado[1] e, por exemplo, o poder do Estado, dos meios de comunicação social, de organismos internacionais ou o poder das grandes empresas tecnológicas.

É a família que nos ama e nos ajuda a filtrar o que vemos, ouvimos e lemos. Se se tira a família, tira-se o filtro e ficamos vulneráveis à engenharia social em curso. Então, a família é um estorvo para um projecto de poder como aquele que hoje se quer impor.

AS IGREJAS geram lealdade a um Deus e esse Deus exige determinadas coisas. Acontece que há um poder mundano que também nos exige coisas e, então, ao ter a lealdade dividida entre um Soberano Celestial e um soberano terreno, o projecto de poder totalitário precisa afastar o Soberano Celestial para ficar como soberano terreno.  Um exemplo concreto:

O que faz um médico cristão com o aborto? Para obedecer à lei terrena que o Estado impõe a toda a sociedade tem de quebrar a sua lealdade ao Soberano Celestial. O que é que ele faz com o mandamento “Não Matarás”? A quem será leal? Será obrigado a ajoelhar-se diante do soberano terreno e matar?

Caso decida obedecer a Deus, suportará os ferozes ataques daqueles que o querem submeter através da ridicularização da sua fé, de insultos como homofóbico, misógino, medieval, fanático religioso, fundamentalista, etc., resistirá à devassa da sua vida privada? 

A fé cristã é, sem dúvida, um grande problema para uma agenda totalitária.

A PÁTRIA  também gera uma série de lealdades.  Não entendo a Pátria como Estado. O Estado é uma organização coerciva; a Pátria é algo muito maior. É a harmonia das gerações e a transmissão da nossa História, dos nossos símbolos, da terra que pisamos, cultivamos, e do sangue que nos une.  O patriota gera um problema para o projecto totalitário, que já não é nacional, mas sim global, com cada um a ter de responder a um símbolo diferente, a uma História diferente e a uma lealdade diferente.

Por isso, temos vindo a assistir à demonização da nossa História, exigem-nos que pisemos os nossos heróis do passado, que derrubemos os nossos monumentos e mudemos a nossa bandeira, o nosso Hino…

Querem obrigar-nos a ser súbditos da bandeira multicolorida, que começa a representar mais pessoas do que a bandeira da nossa Pátria, que hoje é hasteada em quase todas as instituições do Estado e está presente em quase todos os produtos que consumimos. 

Isto diz-nos que o projecto de engenharia social da nova esquerda é muito maior, que não se trata de eventos isolados e que tudo está a ser conduzido para um mesmo propósito. Então há que anular a família, a fé e as fronteiras; há que mudar a cultura.

Próximo post: Batalha cultural


[1] A nova religião política que a Esquerda indrominou depois da queda do muro — e na sequência  das ideias marxistas culturais de Marcuse ou de Wilhem Reich — tem um dos fulcros na perversão do acto sexual. Isto não tem nada de novo: já os primeiros profetas de Yahweh, ainda antes do exílio, tinham denunciado os sacrifícios sexuais das virgens hierodulas ao deus Baal (a erotização da dominação e da subordinação, como acontece hoje n’ “As 50 Sombras de Grey” ) […] A Esquerda (e os libertários de direita, que segundo Lenine são os “idiotas úteis”) dizem que a perversão sexual deve ser vista no âmbito da “escolha individual”. Da mesma forma, dizem que o aborto, por exemplo, também deve ser visto num âmbito de “escolha individual” — como se a “escolha individual”  pudesse ser inserida num contexto de vácuo ético, político, social e cultural. O conceito de “autonomia pessoal” passou a ser sinónimo absoluto de “liberdade negativa”. O indivíduo socialmente atomizado é o novo elemento revolucionário. E é este novo conceito enviesado de “autonomia pessoal” que irá inexoravelmente colocar em causa – na nossa sociedade — a liberdade propriamente dita.

Liberdade negativa: A liberdade negativa é aquela que consiste em não ser impedido de agir — a de não ser impedido por outrem naquilo que desejamos fazer, ou a liberdade de se exprimir sem censura. Em contraponto, a liberdade positiva é a liberdade do cidadão-legislador, segundo o princípio de autonomia de Kant, que consiste em tomar parte nas decisões políticas e públicas, e de co-exercer a autoridade em geral. https://espectivas.wordpress.com/2015/03/02/o-indivduo-socialmente-atomizado-o-novo-elemento-revolucionrio/ Consultado em 15-02-2023, às 18:10.