
A cosmovisão marxista, conforme estabelecida por Lenine, tinha aspirações semelhantes às de Hitler. A educação deveria ser centralizada. O Estado deveria tornar-se o educador, o novo pai. Enquanto no contexto cristão as escolas actuam a partir da capacidade delegada pelos pais, como en loco parentis (“no lugar dos pais”), sob o comunismo/socialismo os papéis invertem-se de tal forma que os lares e as escolas reflectem a perpetuam a agenda do Estado. Da mesma maneira que os futuros rivais nazis, o objectivo era doutrinar a juventude com a cosmovisão oposta.
Substituição da religião e extermínio
A escatologia secular optimista do marxismo dava condições à limpeza ideológica do que restava da antiga visão de mundo cristã pela nova religião materialista oficial do Estado, baseada nos princípios darwinistas. Para acelerar o processo, extermínios sistemáticos estavam na ordem do dia:
Um grande percentual da geração que conheceu Yosef Stalin morreu como resultado directo das suas directivas. Esses foram assassinatos puramente políticos, “extermínios”, “liquidação” da “classe inimiga” e de “elementos indesejáveis”. Quantos foram envolvidos? As estimativas de Solzhenitsyn chegam a sessenta milhões. Robert Conquest, autor de The Great Terror [1] também fixou o número em milhões. Duvida-se que algum dia saibamos o total real — só Deus sabe. [2]
Controle absoluto da educação
Da mesma forma que Hitler, Lenine percebeu o valor de monopolizar a educação e trazê-la para o controle exclusivo do Estado. Ele acreditava que o tempo estava do seu lado. A velha ordem, com as suas ideias ultrapassadas sobre religião, família e educação, passaria. O processo de mudança, entretanto, deveria começar com as crianças. Quanto mais cedo pudessem ser tiradas dos seus pais e as suas ligações com o passado quebradas, mais rapidamente aconteceria a reprogramação.
No livro Princípios do comunismo, publicado em 1847, Engels defendeu a “educação de todas as crianças, tão logo atingissem idade suficiente para dispensar o cuidado materno, em instituições nacionais e à custa da nação”. [3] Todas as facetas da sociedade deveriam conformar-se à nova ideologia:
Estamos a trazer as mulheres para a economia social, para a legislação e para o governo. […] Estamos a estabelecer cozinhas comunitárias […] creches […] instituições educacionais de todos os tipos. Em resumo, estamos a cumprir seriamente a demanda do nosso programa para a transferência da função económica e educacional da família em si para a sociedade. […] As crianças são criadas sob condições mais favoráveis do que em casa. [4]
A educação era centralizada. A “família em si” foi transferida “para a sociedade”. As mães seriam encorajadas a entrar no mercado de trabalho em número cada vez maior. Isso daria ao Estado a oportunidade de cuidar das crianças em “instituições educacionais de todos os tipos”.
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[1] Robert Conquest fez uma importante resenha de The Great Terror, utilizando evidências recentemente disponíveis da era glasnost: The Great Terror: A Reassessment (New York: Oxford University Press, 1990). V. tb. Mark Kramer (org.), The Black Book os Communism: Crimes, Terror, Repression (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1999).
[2] Lloyd Billingsley, The Generation that Knew Not Josef (Portland, OR: Multnomah Press, 1985), p. 37. Durante a era glasnost, o passado de Stalin foi literalmente escavado. “Uma comissão governamental descobriu que milhares de crânios e ossos enterrados num cemitério fora de Kiev eram das vítimas mortas durante as repressões do ditador Yosef Stalin, e não pelos soldados nazis, conforme relatara a agência de notícias do governo, Tass” (“Mass Grave Near Kiev Holds Stalin’s Victims, Panel Says”, St. Louis Post-Dispatch [March26, 1989]). Sob Stalin, “mais de 600 mil sentenças de morte” foram dadas e “pelo menos 5 milhões de pessoas foram presas” nos piores anos, de 1937-1938. Ele destruiu crianças e velhos, pessoas desconhecidas e favoritos do partido (…). No campo, em 1932-1933, 8 milhões de pessoas morreram de fome de acordo com a política de agricultura baseada no assassinato de Kulaks (fazendeiros) ou apenas debilitando as suas terras”. (Peter Keresztes, “Murder of MIllions”, The Wall Street Jounal [August 31, 1989], p. A13).
[3] Citado em Francis Nigel Lee, Communist Eschatology: A Christian Philosophical Analisys of the Post-Capitalistic Views of Marx; Engels and Lenin. Nutley, NJ: The Craig Press, 1974, p. 351.
[4] Citado em Lee, Communist Eschatology, p. 350.
Copiado de: “Quem controla a escola governa o mundo”, Gary DeMar, p. 24-26