
Shirer pinta um quadro depressivo do estado da igreja cristã em 1938. As “Cortes Especiais” estabelecidas pelos nazis acusavam os pastores que denunciavam as políticas de Hitler. Niemöller não foi o único marcado pela Gestapo:
“Outros 907 pastores e líderes leigos da ‘igreja confessional’ foram presos em 1937, e mais algumas centenas nos dois anos seguintes”. [1]
Um grupo de igrejas confessionais na Alemanha, fundadas pelo pastor Niemöller e outros ministros protestantes, escreveu um manifesto para confrontar as mudanças políticas que ocorriam no país e que ameaçavam o povo “com um perigo mortal. O perigo que mora na nova religião,” dizia o manifesto.
“A igreja tem, por ordem do Mestre, que garantir que Cristo receba do nosso povo a honra adequada ao juiz do mundo. […] O primeiro mandamento diz: ‘Não terás outros deuses além de mim’. A nova religião é uma rejeição do primeiro mandamento”. [2]
Quinhentos pastores que leram o manifesto dos seus púlpitos foram presos; “Muitos alemães perderam o sono por causa da prisão de alguns milhares de pastores e padres”. [4]
Usurpação e assassinato
A descoberta recente de um relatório confidencial do governo americano, preparado pelo Office of Strategic Services, antecessor da CIA, para o Tribunal Militar Internacional em Nuremberga, Alemanha. documenta como os nazis queriam “tomar as igrejas de dentro para fora, usando simpatizantes do partido”. A usurpação da autoridade eclesiástica seria alcançada por meio do descrédito, da prisão ou até mesmo do assassinato dos líderes cristãos e posterior redoutrinamento dos membros das congregações para “lhes dar uma nova fé — no Terceiro Reich da Alemanha”. O objectivo final era “eliminar o cristianismo”. O documento oficial de cento e vinte páginas intitulado “The Nazi Master Plan: The Persecution of the Christian Churches” [“O Plano-mestre nazi: a perseguição das igrejas cristãs”] relatava o seguinte ao Tribunal Militar em 1945:
Importantes líderes do Partido Nacional Socialista gostariam de ter tratado desta situação [a influência da igreja] com a completa extirpação [remoção] dos cristianismo e a sua substituição por uma religião puramente racial. […] A melhor evidência ora disponível da existência de um plano contra a igreja encontra-se na natureza da própria perseguição. […] Diferentes passos dessa perseguição, como a campanha para a supressão das organizações denominacionais e de jovens, a campanha contra as escolas denominacionais, a campanha de difamação contra os clérigos, começaram no mesmo dia em toda a área do Reich […] e foram apoiados por toda a imprensa do regime, pelos encontros dos partido nazi, pelos porta-vozes itinerantes do partido. ]5]
Igrejas confinadas
As igrejas foram “confinadas tanto quanto possível às funções estritamente religiosas, e mesmo nessa esfera estrita estavam sujeitas a tantas obstruções quantas os nazis se atreviam a impor. A implementação desse objectivo começou com a redução da instrução religiosa nas escolas primárias e secundárias, limitando-a a horários inconvenientes, com a propaganda nazi entre os professores para os induzir a rejeitar o ensino de religião, com o veto de […] livros religiosos, e por último com a substituição da instrução denominacional cristã pela ‘fé alemã’ e Weltanschauung [cosmovisão]nazi. […] Quando a guerra teve início […] a instrução religiosa quase havia desaparecido das escolas primárias alemãs”. [6]
Hitler sabia que para garantir o futuro deveria controlar o presente e remodelar a cosmovisão da nova geração com a sua cosmovisão nazi. Mediante o controle das escolas e igrejas e o sequestro do processo educacional em ambas as instituições, Hitler eliminou os cinturões opostos de transmissão de resistência ideológica.
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[1] Shirer, Rise and Fall of the Third Reich, p. 239.
[2] Shirer, Rise and Fall of the Third Reich, p. 239.
[3] Citado em Eugene Davidson, The Trials of the Germans: An Account of the Twenty-Two Defendants before the International Military Tribunal at Nuremberg (Columbia, MO: University of Missouri Press, [1966] 1997), p. 275
[4] Shirer, Rise and Fall of the Third Reich, p. 240.
[5] Citado em Edward Colimore: “Papers reveal Nazi aim: End Christianity”, Philadelphia Inquirer (January 9, 2002). http://inq.philly.com/content/inquirer/2002/01/09/front_page/JNAZI09.htm
[6] O relatório está disponível em www.camlaw.rutgers.edu/publications/law-religion/nuremberg/nurinst1.htm
Copiado de: “Quem controla a escola governa o mundo”, Gary DeMar, p. 21-24