A concretizar-se o chumbo dos meus irmãos – alunos irrepreensíveis – dá-se em Portugal um acontecimento de inédita insensatez e autoritarismo, que ficará tristemente marcado na história da democracia.
Desde há uns anos a esta parte o Estado português (e enquanto Estado refiro-me aqui ao significado mais específico desta palavra: o poder instituído) – que deveria estar para nos proteger – tem avançado subtil e paulatinamente em usurpar, sem avisar e sem pedir licença, um espaço que, naturalmente, diz especial e primariamente respeito às famílias, como dever e direito que é dos pais, e dos irmãos. Entendemos que, pela própria natureza das coisas, e como está salvaguardado nos documentos supracitados, é essencial o pacto de confiança entre a família, a escola e o Estado, pacto este que permite aos pais, professores e governantes cooperarem, numa relação de subsidiariedade, cada um no lugar a que lhe corresponde, para uma saudável complementaridade com vista ao desenvolvimento integral de cada criança, de cada adolescente, de cada jovem.
Os pais entregam os filhos ao cuidado da escola na confiança de que esta corresponda àquilo que é do seu âmbito, e que se preservem e respeitem as opções dos pais em matérias, que, de si, não têm porque dizer directamente respeito aos professores.
E isto porque, de facto, os pais são os primeiros interessados em que os seus filhos vão à escola, e aprendam, e possam ter um meio de desenvolver as suas capacidades, a muitos níveis, com muitas pessoas diferentes. E logicamente aos pais, em razão do particular amor e conhecimento compreensivo que têm dos seus filhos, é dada a primazia sobre o modo de proporcionar os melhores meios para este desenvolvimento integral.
Os pais não são, não devem, não podem ser meros espectadores na educação dos seus filhos, porque, deixemo-nos de ingenuidades, o que eles não fizerem, outros se encarregarão de fazer: seja na escola, na televisão, nas redes sociais… Porque uma criança tem necessidade e o direito de ser educada, de ter exemplos a imitar, de adquirir valores humanos, de formar convicções, de desenvolver a sua personalidade.
E quem mais preparado para a ajudar nisso que os seus próprios pais?