Na perspectiva do investigador Álvaro Ribeiro, o Ministério da Educação deveria encarar estes casos como uma poupança. “Se cada aluno custa cerca de cinco mil euros por ano, é só fazer as contas.” Além disso, sabe – porque estuda o fenómeno desde 2008, quando fez um mestrado sobre a privatização da Educação, na Universidade do Minho – que os alunos que não vão à escola têm médias superiores, em cerca de 1,5 valores, nos exames nacionais. E nem se admira: “Em casa, há uma maior atenção à criança, recursos diversificados, uma biblioteca pessoal adaptada à faixa etária e hábitos de leitura.”
Álvaro Ribeiro ainda hoje mantém contacto com algumas famílias que se prestaram a ajudá-lo na investigação e, por isso, consegue traçar um retrato-robô de quem escolhe este tipo de ensino: “Não querem ser substituídos pela escola. Consideram que os pais, o lar, a família é que devem escolher os conteúdos e as formas da aprendizagem. O filho está no centro da existência e respeita-se as necessidades de cada criança.” O processo, normalmente, é coordenado pelas mães, mas seguido de perto pelos pais. O mais comum é não trabalharem ou tornarem-se empreendedoras a partir de casa. O regresso dos filhos à escola nem sempre é fácil e acontece, às vezes, porque a mãe deixa de conseguir dar conta do recado.
Foi o que aconteceu a Tânia Faria, 34 anos, quando nasceu Ester, há dez meses. A sua outra filha, Rute, hoje com 8 anos, esteve sempre consigo, uma decisão tomada pelo casal, mas muito influenciada por Rosinda, mãe de Tânia. São todos adventistas do sétimo dia – dentro desta comunidade é comum seguir-se esta via de ensino como forma de protecção da criança de outros valores morais que não os defendidos por esta igreja. “Quis que ficasse comigo pelo menos até aos 6 anos, que é a altura em que está a construir o seu carácter, mas depois pensei que ainda era melhor se se mantivesse em casa até ao 4º ano”, conta Tânia, com a mais nova ao colo.
Além das aulas em casa, Rute tinha piano, natação e grupo da igreja, e muito convívio com os primos. Talvez por isso a sua integração na escola das Caldas da Rainha, no 3º ano, tenha sido mais ou menos pacífica. Também ajudará o facto de a mãe ir buscá-la todos os dias para almoçar em casa – a compensação que lhe quer dar, depois de ter reconhecido que, com uma bebé em casa, não conseguia prestar-lhe a atenção de que precisava para aprender como deve ser. A maior interrogação da filha, perante a perspectiva de ir para a escola pública, foi: “Como vou conseguir aguentar todo o dia fechada numa sala?”
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